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As desigualdades na qualidade da educação começam desde
cedo. No Brasil, crianças com famílias de níveis socioeconômicos mais altos têm
desempenho considerado adequado desde a alfabetização. Entre aquelas com nível
socioeconômico mais baixo, o percentual das que têm aprendizado considerado
adequado chega a ser seis vezes menor.
Os dados são de levantamento feito pelo movimento Todos pela
Educação (TPE), com base nos resultados da Avaliação Nacional da Alfabetização
(ANA) de 2014. Entre as crianças que pertencem a camadas mais pobres da
população, ou seja, cuja família tem renda de até um salário mínimo (R$ 937),
apenas 45,4% têm o nível adequado, estabelecido pelo Ministério da Educação
(MEC), em leitura, 24,9% em escrita e 14,3% em matemática.
Entre as crianças de famílias mais ricas, com renda familiar
acima de sete salários mínimos (R$ 6.559), esses percentuais aumentam: 98,3%
têm nível considerado adequado em leitura; 95,4% em escrita e 85,9% em
matemática.
"O que preocupa é notar que as desigualdades começam
muito cedo", diz o gerente de Conteúdo do Todos pela Educação, Ricardo
Falzetta. "Se tivesse um sistema funcionando muito bem, todos teriam as
mesmas oportunidades, independentemente de raça, cor, religião, localidade. As
condições socioeconômicas não mudam a capacidade de a criança aprender. Se
tiver educação de qualidade, ela vai ter a mesma aprendizagem que qualquer
outra criança".
A ANA é uma prova aplicada em todo o país para alunos do 3º
ano do ensino fundamental, etapa em que se completa o ciclo de alfabetização.
Pelos critérios do MEC, um desempenho adequado significa tirar pelo menos 500
pontos na prova escrita; mais de 425 em leitura; mais de 525 em matemática. No
total, 2,5 milhões fizeram as provas em 2014. Desses, 1,4 milhão não tem
aprendizagem adequada em matemática, 865 mil não têm em escrita e 558 mil não
têm em leitura.
Esses estudantes não são capazes, por exemplo, de localizar
informações em um texto ou entender a sua finalidade. Em matemática, não são
capazes de comparar quantidades ou de dividir pela metade.
Alfabetização obrigatória
"Essas crianças estão avançando nas séries sem o devido
desenvolvimento. O domínio da língua passa a ser cada vez mais fundamental para
avançar em todas as áreas", diz Falzetta. Ele ressalta, no entanto, que
não é possível desistir dessas gerações. "Não adianta dizer que a culpa é
de quem não alfabetizou direito. Tem que entender que vai haver crianças em
turmas heterogêneas e que é preciso ter estratégias para cada grupo".
Ele reforça que ter uma escola bem preparada, com
infraestrutura básica, acervo de livros disponível e que seja usado pelos
professores, uma boa formação dos professores e participação dos pais, colabora
para uma educação de qualidade, não apenas nos anos iniciais, mas em toda a
escolarização.
Além disso, atenção maior deve ser dada aos grupos mais
vulneráveis, para que avancem juntos. Os dados mostram que as desigualdades
existem entre aqueles que moram na cidade e no campo e entre as regiões do
país. A diferença no percentual de crianças com alfabetização adequada entre
área urbana e área rural chega a 14 pontos percentuais em leitura, 20,6 pontos
em escrita e 17,5 pontos em matemática, sendo que aqueles que moram na cidade
têm os melhores desempenhos.
Entre as regiões, o Norte e o Nordeste registram os menores
percentuais de crianças com alfabetização adequada. A diferença dessas regiões
para as de melhor desempenho – Sudeste em leitura e matemática, e Sul em
escrita – chega a 32 pontos percentuais em matemática 38,6 em escrita e 23,7 em
leitura.
Fundado em 2006, o movimento Todos pela Educação estabelece
cinco metas para que, até 2022, o Brasil garanta a todas as crianças e jovens o
direito à educação de qualidade. Entre as metas está a de ter toda criança
plenamente alfabetizada até os 8 anos. Por lei, pelo Plano Nacional de Educação
(PNE), sancionado em 2014, o Brasil deve, até 2024, alfabetizar todas as
crianças até o 3º ano do ensino fundamental.
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