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O sentimento de que a invasão de tablets,smartphones e
aplicativos sociais pode estar tomando o lugar dos tradicionais livros em papel
entre crianças e adolescentes se desfaz imediatamente quando se chega à 17ª
Bienal do Livro do Rio. Nos três pavilhões do Riocentro, milhares de crianças,
quase todas integrantes de excursões promovidas pelos colégios, tomam o espaço
e enchem o ambiente de alegria. Os pequenos lotam as livrarias, principalmente
aquelas com temáticas infantojuvenis.
A explicação para essa preferência pelos livros em papel em tempo de redes sociais
pode estar tanto no tipo de narrativa que o livro oferece, sem distrações e
mais aprofundada, quanto na capacidade das novas gerações de segmentar a
atenção para várias mídias ao mesmo tempo, algo que é difícil para os mais
velhos.
A opinião é da diretora da Bienal, Tatiana Zaccaro, que vê grande espaço para o
crescimento dos livros na atualidade, em todo o mundo, apesar das tecnologias
que cada vez mais fazem parte da vida de todos.
“A cada ano, temos mais visitantes, e o número de livros comprados aumenta. E
temos algo, que está ocorrendo no Brasil e no mundo, que são os adolescentes
lendo bastante. A média de livros vendidos tem aumentado exatamente nessa faixa
etária. Isso leva a acreditar que, mesmo competindo com toda a tecnologia que
faz parte de sua vida, os adolescentes, que nasceram na era das telas de toque
e da internet, não abandonam os livros. Eles querem o autógrafo, querem
conhecer o autor. Isso mostra que o livro está mais vivo do que nunca”, disse
Tatiana.
Uma das formas de garantir essa simbiose entre mídias de papel e digital é
oferecer livros desde muito cedo às crianças, que assim crescem com amor às
páginas impressas. A dica é da empresária Vanessa Mazzoni, que visitava a
bienal em companhia das filhas Ana Clara, de 11 anos, e Larissa, de 5 anos. “A
Ana Clara devora livros, a pequenina ainda não lê, mas está indo pelo mesmo
caminho. A gente incentiva. Presentes de aniversário são sempre livros, pois
ela já está na adolescência. Elas têm tablet, mas não têm o hábito de ler
nele, tem que ser livro de papel mesmo”, afirmou Vanessa.
A filha Ana Clara, que está no sexto ano, explicou como consegue se dividir
entre as mídias digitais e as páginas impressas. “Eu fico dividindo o meu
tempo. Fico um pouco lendo, um pouco usando o celular e dá para fazer tudo. Se
eu gosto da história e do autor, eu procuro na internet sobre os outros livros
dele e aí compro para ler. Eu gosto de ver o livro, a capa, acho legal”,
contou.
O amor pela leitura às vezes independe de classe social e
condições de adquirir livros que, muitas vezez, podem ser difíceis de se
encaixar no orçamento familiar. Isabele Vitória da Silva Santos Faria, de 10
anos, integrante do projeto social Circo Crescer e Viver, aproveita o tempo
extra na escola para se dedicar à leitura. O hábito, segundo ela, veio dos
pais. A mãe é cozinheira e o pai, segurança, mas sempre tiveram livros em casa.
“Eu gosto mais de ler contos de fadas e ficção. O tablet compete com
os livros às vezes, mas minha mãe diz que é preciso uma hora para cada coisa”,
disse Isabele.
Colega no circo, Pablo Richard, de 11 anos, gostaria de ter mais livros em
casa. Ele mora com a mãe, que vende salgados, e não dispõe de tablet nem
celular. Diz que prefere ler em papel mesmo, mas reclama do preço. “Às vezes,
vou à biblioteca da escola e pego o maior livro que tem. Gosto de contos de
fadas e histórias de terror. Pena que os preços aqui na Bienal são o dobro do
que eu trouxe em dinheiro”, lamentou.
Mesmo para quem trabalha nas livrarias, passando o dia entre prateleiras e
pilhas de livros, a questão financeira acaba sendo um limitador. Para Ivisson
Laurent dos Santos Silva, o acesso a determinadas obras, principalmente aos
livros técnicos, está distante da realidade. “Os livros ainda são inacessíveis
para a maioria dos brasileiros. Aqui pagamos muitos impostos e tributos. Apesar
de eu trabalhar em uma livraria, tenho que optar em fazer as coisas pessoais ou
comprar um livro. Entre o pão e o livro, ganha o pão”.
A Bienal do Livro estará aberta até o próximo dia 13. Os ingressos custam R$
16, a inteira, e R$ 8 a meia. Professores e bibliotecários não pagam. O
estacionamento para carros custa R$ 22. Informações completas podem ser
acessadas na página oficial da bienal na internet (www.bienaldolivro.com.br).
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