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Adilson
Ferreira de Souza nasceu cinco dias antes de Emerson, há mais de 34 anos.
Conhecido como Popó, por causa da semelhança física com o pugilista aposentado,
o atacante natural de Andradina está no Japão com a missão de não jogar na lona
a reputação que o seu colega do Corinthians construiu no Urawa Reds. O sucessor
chegou ao clube asiático nesta temporada e já tem "muita coisa para
contar", conforme afirmou á reportagem. As informações são do Portal
Terra.
Popó
poderia aumentar o seu repertório de boas histórias até o final do ano. O Urawa
Reds, que Emerson defendeu entre 2001 e 2005, almejava o título do Campeonato
Japonês para se classificar para a chave do Corinthians no Mundial de Clubes,
porém se distanciou da liderança. "Tínhamos grandes chances. Nosso time
estava bem cotado na J-League e queria muito a vaga. Eu mesmo fiquei
animado quando o Corinthians ganhou a Libertadores e garantiu presença no
torneio", disse o atacante brasileiro.
O
entusiasmo de Popó com o título do Corinthians não foi à toa. Sem demonstrar
resistência, ele logo destacou a sua equipe de coração. "As famílias
sempre têm torcedores de vários clubes, não é? Mas a maior parte da minha é
corintiana. Vou te confessar que eu mesmo gostava do Corinthians quando era
pequeno. Do outro lado do mundo, continuo acompanhando o time e o futebol
brasileiro na medida do possível, pelos canais internacionais. Vi o Corinthians
ser campeão da Libertadores e gostei", afirmou.
Na
decisão latino-americana, o Corinthians contou com dois gols de Emerson para
superar o argentino Boca Juniors no Pacaembu. O jogador tem uma legião de fãs
entre os torcedores do Urawa Reds, segundo Popó, e até fotografias e outros
registros de sua trajetória vitoriosa pelo Japão guardados em uma das sedes do
clube. O sucesso na equipe asiática foi tamanho que abriu espaço para novas
contratações de atacantes brasileiros, como Robson Ponte (que fez carreira na
Alemanha), Washington (parou de jogar no Fluminense, em 2010), Edmilson
(revelado pelo Palmeiras), Mazola (criado no São Paulo) e, mais recentemente,
Adilson Popó.
"O
Urawa tem um CT muito bonito e a maior torcida da Ásia, apaixonada como a do
Corinthians. Eles realmente gostam de nós, brasileiros, e especialmente do
Emerson. Ficaria bonito se a gente se enfrentasse no Mundial. Tenho
acompanhado o Corinthians, mas queria estragar a festa deles. Dentro de campo,
cada um deve defender o seu lado", pregou Popó, que já tem larga
experiência no Japão. Antes de defender o clube de Saitama, ele atuou duas
temporadas pelo Kashiwa Reysol e outras duas pelo Vissel Kobe. "Sou quase
um japonês", sorriu.
Das
BMWs de Jorge Mendes à Copa Coca-Cola
Tão calejado quanto Emerson, Popó já aprendeu que não há muito ambiente para
jogadores se importarem em torcer por determinada equipe após a
profissionalização. Na mesma época em que o Emerson deixava o Rio de Janeiro
para começar a treinar nas categorias de base do São Paulo, o hoje jogador do
Urawa Reds tentava aparecer nos menos expressivos Penapolense e Mogi
Mirim, no qual trabalhou com o técnico Vadão. Chegou a se iludir com três experiências
internacionais na sequência, por Montevideo Wanderers (Uruguai), Salgueiros
(Portugal) e América (México), resultantes de sua relação com um grupo de
empresários.
"Conheci
o Jorge Mendes, o mesmo agente do Cristiano Ronaldo, naquele tempo. Ele gostava
demais de mim. Eu ia com ele para cima e para baixo nas suas BMWs, conhecendo
os presidentes do Barcelona, do Valencia... O Salamanca, da Espanha, quis até
me levar sem nem me ver jogar. Só porque eu andava ao lado do Jorge Mendes.
Pode uma coisa dessas? Isso tudo subiu à minha cabeça, infelizmente",
recordou Popó, que não aceitou ser reserva no lusitano Salgueiros. "Eu não
entendia, mas o clube colocou outro atleta como titular para poder negociá-lo
naquele período. Chegaria a minha vez. Se eu tivesse paciência... Mas bati o pé
para ir embora, e o Jorge acabou arrumando um lugar para mim no América do
México."
Quando
estava no futebol mexicano, entre 1998 e 1999, Popó foi novamente procurado por
Jorge Mendes, que queria levá-lo para um clube da segunda divisão portuguesa.
"Falei que não ia de jeito nenhum. Na minha cabeça, seria um retrocesso
sair de um grande time do México, em que eu estava jogando e coisa e tal. Como
fui bobo, não é? Era só esperar um pouco, e o Jorge Mendes me arrumaria algo
melhor. Achei que eu fosse mais do que realmente era. Na juventude, a
gente acaba cometendo equívocos, fazendo coisas erradas, saindo demais,
querendo só farra... Fiquei à deriva por isso. Nunca mais vi o Jorge Mendes.
Ele não quis voltar a falar comigo. E, convenhamos, com toda a razão",
lamentou, mais de uma década depois.
A
carreira de Popó regrediu vertiginosamente quando o contrato com o América do
México expirou. "Para você ter uma ideia, tentei arrumar emprego no
Araçatuba e precisei mostrar currículo e fazer testes para ganhar uma mixaria.
Também joguei no Bandeirante de Birigui, no Coritiba... Foi lá até que o
Ataliba (atualmente, meio-campista do São José) me deu o apelido de Popó, que
carrego até hoje. Só que continuei a enfrentar muitos problemas.
Nunca passei fome, graças a Deus, mas pensei em desistir de ser jogador de
futebol", lembrou o atleta, que ganhou um bom motivo para criar rancor do
maior rival do Corinthians nesta época. "Eu me machuquei seriamente em um
jogo contra o Palmeiras, em 2004. Quando me recuperei, o Coritiba já estava com
outros atacantes e não quis mais ficar comigo."
Foram
nas dificuldades, no entanto, que Popó conheceu duas das mulheres mais
importantes da sua vida. Ele se consulta até hoje com a fisioterapeuta Lucimara
Menali. "O que ela consegue fazer é brincadeira. Ela não promete.
Cumpre", propagou. Já a companheira Jussara passou a dividir as aspirações
e preocupações do jogador depois de um churrasco de fim de ano, que serviu de
comemoração pelo título da Copa Coca-Cola de 2001, conquistado pelo Bandeirante
de Birigui. "A história é muito doida. Estudamos na mesma escola em
Andradina, mas só fomos nos conhecer melhor e começar a namorar nesta
ocasião", ele contou. "Tínhamos amigos em comum no churrasco. Ficamos
juntos pela primeira vez lá e nunca mais nos separamos. Isso já faz 11
anos", ela complementou.
O
apoio de Jussara foi fundamental para Popó se reerguer até atingir o status de
um dos sucessores do ídolo Emerson no Urawa Reds. Do futebol paranaense, ele
rumou com a esposa para a Coreia do Sul, onde defendeu Busan IPark e Gyeongnam
FC. Ela encarou a mudança de país com destemor, até porque o pior havia
passado: "O mais difícil foi quando ele ainda jogava no Brasil, por causa
da irregularidade dos times, da falta de pagamento. Não havia perspectiva de um
futuro concreto. Quando ele saiu do Coritiba e pensou em desistir, conversamos
muito, pois eu sabia que era o sonho dele. Era importante apoiá-lo. Depois de
casados, só mesmo a distância do Brasil atrapalhou, mas procuramos ficar sempre
juntos e lutar".
No
primeiro encontro com Emerson, deu Popó
Livre do orgulho que desfez a sua relação com o empresário Jorge Mendes,
Adilson Popó chegou ao Busan IPark disposto a vingar. Não se importou em morar
na Coreia do Sul sem um intérprete que falasse português ou com a escassez de
comidas típicas brasileiras nos supermercados. Até se esforçou para conseguir
se comunicar com o técnico escocês Ian Porterfield, falecido em 2007 (vítima de
um câncer de cólon) e curiosamente comandante do londrino Chelsea (outro
postulante ao título do Mundial de Clubes) entre 1991 e 1993. "Aprendi a
falar inglês vendo filmes com legendas. Eu precisava. Assisti muitas vezes a Homens
de Honra, com o Robert de Niro, e a Um Ato de Coragem, do Denzel
Washington. São filmes muito bons. Se alguém ainda não viu, recomendo."
Culturalmente
em alta com seu treinador, Popó foi também uma das peças mais importantes na campanha
que levou o Busan IPark às semifinais da Liga dos Campeões da Ásia de 2005.
Logo nas primeiras rodadas, ele visitou o Becamex Binh Duong do Vietnã e
percebeu que os seus problemas no Brasil eram pequenos se comparados aos dos
vietnamitas. "Vivenciamos um contraste enorme lá. Ficamos em um resort, um
lugar dos sonhos. Mas, quando saíamos, só víamos pobreza. Tudo era velho,
quebrado. O refrigerante era servido quente porque não havia geladeira. Os
vestiários do estádio onde jogamos eram de madeira.
O
campo parecia uma várzea. Tinha até um brasileiro no time deles (o meia
Rogério Barbosa), mas não pudemos conversar direito porque o nosso voo partiu
logo depois do jogo. Não menosprezando, mas a gente até se sentia mal marcando
gols. Coitados. Eles poderiam estar passando fome, sem conseguir correr
direito", declarou. Nos dois encontros com o Becamex, o Busan goleou por 8
a 0 e por 4 a 0, no primeiro deles com um gol de Popó.Em 14 e 21 de setembro de
2005, os compromissos do Busan IPark pela Liga dos Campeões da Ásia marcaram
Popó positivamente. O rival nas quartas de final foi o Al-Sadd, que havia
começado a contar com Emerson, recém-saído do Urawa Reds para se tornar Emerson
no Catar.
"Foi
um dos primeiros jogos do Emerson pelo Al-Sadd. Nós nem nos conhecíamos. Muitos
jogadores brasileiros já estavam nesses mercados na época. E o bicho (Emerson)
era rápido para caramba. Mesmo assim, conseguimos ganhar", rememorou.
"O Popó jogou os 90 minutos da partida decisiva, enquanto o Emerson só
entrou no segundo tempo, pois ainda estava chegando ao Al-Sadd",
acrescentou a esposa Jussara. O time sul-coreano avançou com vitórias por 3 a 0
(com dois gols do atacante Da Silva, hoje no Villa Nova-MG) e 2 a 1 (o
equatoriano Carlos Tenorio, agora no Vasco, descontou para o clube do Catar).
Na sequência do torneio asiático, o Busan caiu diante do árabe Al Ittihad.
As
boas atuações na Coreia do Sul conduziram Popó ao mais atrativo futebol
japonês. A adaptação foi rápida. Em menos de cinco anos, ele já aprendeu a
falar algumas palavras no idioma local - só usa o intérprete do Urawa Reds para
assuntos mais complexos, como os bancários - e está feliz ao lado de
Jussara e do filho Miguel, de 4 anos. Para melhorar a situação, um amigo de
infância chegou ao seu clube em Saitama. "Eu tinha perdido um pouco de
contato com o Marcio Richardes (meio-campista que atuou no São Caetano) depois
de sair de Andradina, mas nos reaproximamos agora. É uma coincidência do
destino jogarmos no mesmo time, do outro lado do mundo", sorriu.
O
momento é tão favorável que Popó já cobiça até a realização plena em sua
profissão, com conquistas e reconhecimento no Brasil. "Nunca ganhei uma
J-League. É um sonho que tenho. Ainda mais com uma vaga no Mundial de Clubes em
jogo. Por enquanto, só disputei final de Copa do Imperador aqui. Perdi meu
Natal e meu Ano Novo por isso e ganhei uma medalha de lata", gargalhou.
Jussara avisou que ficaria ao lado de seu marido no caso de um reencontro com
Emerson Emerson em dezembro: "Torço sempre pelo time do meu marido. Sou
Urawa hoje. Quero muito que o Popó ganhe uma J-League e, se for o
caso, vença também o Corinthians. Nunca gostei de nenhuma equipe. Só
apoiava a Seleção Brasileira durante Copas do Mundo".
Agora
na torcida pelo time do coração no Mundial de Clubes, Adilson Ferreira de Souza
não deixa de sonhar em ficar em evidência no futebol brasileiro. Pensa até
em seguir o exemplo de Emerson, que deixou de ser um anônimo no País ao
defender Flamengo, Fluminense e Corinthians depois de encantar o público
japonês. "Se eu tivesse a mesma chance dele, seria interessante voltar ao
Brasil. Mas já estou com a idade um pouco avançada para isso. Acho complicado.
Passei quase toda a minha carreira no exterior. Fiz algumas coisas importantes,
mas quase ninguém me conhece no meu País, onde joguei pouco e quase sempre por
times pequenos", aceitou Popó, satisfeito por já ter nocauteado as
dificuldades do início de carreira.
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