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A
partir do dia 1º de janeiro de 2012, a ANS (Agência Nacional de Saúde
Suplementar) vai retirar do rol dos procedimentos cobertos pelos convênios a
embolização uterina. O procedimento, segundo explica o médico Néstor
Kisilevzky, radiologista e especialista na técnica, é usado para tratamentos de
miomas quando esses apresentam sintomatologia.
O mioma é um tumor benigno, que aparece geralmente em mulheres com idades de 35
a 40 anos e é tratado somente quando apresenta algum sintoma. “O mais comum é a
hemorragia durante o período menstrual”, diz o médico. Esse sintoma prejudica a
rotina da mulher, “que precisa trocar o absorvente várias vezes ao dia, com
isso ela não quer sair de casa, não quer trabalhar, não quer ter relações”,
enumerou Kisilevzky.
O médico é contra a retirada do procedimento do rol de cobertura. Para ele,
esta técnica é menos invasiva do que a outra também indicada, a histerectomia,
“que é um procedimento cirúrgico formal, que requer maior tempo de internação,
anestesia geral e tem recuperação mais lenta”, diz. Ao contrário da
embolização, onde é aplicada a anestesia local. “Não é preciso cortar a pele, é
feita por cateterismo, não requer internação prolongada. A paciente pode ser
operada de manhã e, no máximo dorme no hospital, no outro dia vai para casa”,
diz.
ANS
A ANS afirma que o procedimento será excluído da lista de coberturas pelos
convênios por recomendação do Citec (Comissão de Incorporação de Tecnologia),
do Ministério da Saúde. De acordo com o ministério, o Citec avaliou que os
procedimentos adotados hoje em dia, histerectomia e miomectomia, são mais
eficientes. “Ainda não existem ensaios clínicos que mostram que não existe
efeito colateral [da embolização]. Não há segurança suficiente para ser
incorporado”, afirmou a pasta por meio de sua assessoria.
Para Kisilevzky, a agência foi “conduzida ao erro. A argumentação que deram é
de que não existe explicação científica. Não discutimos o fato de incluir ou
retirar, mas realmente existe uma farta evidência científica”, disse. O médico,
a convite da ANS, apresentou recentemente aos técnicos da agência um parecer do
Acog (sigla em inglês para Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia),
publicado em 2008, que classifica o procedimento como “Nível A de Evidência
Científica” (o mais alto na escala científica) e recomenda a sua aplicação como
uma alternativa da histerectomia para mulheres com miomas uterinos.
Segundo o médico, na histerectomia é feita a retirada total ou parcial do útero
e esse é um dos grandes problemas da decisão. “Trata-se de um verdadeiro
atentado contra a saúde da mulher, já que condena milhares delas a perderem
seus úteros de forma desnecessária”, afirma.
Explicação
“Com a decisão da ANS, o Brasil torna-se o único país a desconsiderar os
benefícios da embolização uterina para a saúde da mulher, justamente no momento
histórico em que pela primeira vez temos uma mulher presidente da República”,
afirma Kisilevzky. “Devemos nos perguntar a quem interessa excluir o
procedimento do rol, visto que ele possui evidências científicas fartas e
consistentes. Certamente não serão beneficiadas as mulheres que sofrem com a
miomatose sintomática”, comentou.
O especialista diz que “a ANS deve uma explicação apropriada para a sociedade.
Já deixei o estudo, essa falta de base não existe. Está perfeitamente
fundamentado no lado técnico. O ministério [da Saúde] como um todo deveria
explicar por que retiraram [o procedimento]”.
De acordo com Kisilevzky, cerca de 30% das mulheres com idades entre 35 e 40
anos vão precisar de tratamento para miomas. Todos os anos no Brasil pelo menos
mil fazem histerectomia, ou seja, “a retirada do útero sem necessidade”,
conclui o especialista.
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