Depois dos alimentos, é a vez do preço do álcool e da gasolina
pressionar a inflação e despertar a preocupação do Banco Central.
Ao se reunir hoje para definir a nova taxa básica
de juros da economia --Selic--, o Copom (Comitê de Política Monetária) poderá
levar em conta a recente disparada nas bombas.
Nas últimas quatro semanas, de acordo com
levantamento da Agência Nacional do Petróleo, o litro da gasolina ficou, em
média, 4,66% mais caro. Embora o governo -- por meio da Petrobras-- mantenha os
preços sob controle, um quarto do litro do combustível é álcool anidro.
Desde o início do ano, esse etanol --que é
diferente do vendido diretamente na bomba--dobrou de preço.
A escalada levou economistas a apostar que a
inflação em 12 meses vá passar o teto da meta para este ano --de 6,5%-- já em
abril. Em março, a inflação medida pelo IPCA, índice oficial usado pelo governo
para fixar metas, foi de 6,3% em 12 meses.
"O problema no etanol e agora na gasolina nos
fez antecipar o estouro da meta", afirma o economista da corretora Máxima,
Elson Telles.
No relatório de inflação de março, o BC afirma
que, em 12 meses, a inflação superaria o teto da meta por volta de julho e que
isso não se estenderia por mais de três meses. Na previsão de analistas, o BC
deverá elevar os juros, atualmente em 11,75% ao ano, para combater a inflação.
As projeções de alta variam de 0,25 a 0,50 ponto percentual, o que poderia
levar a taxa a 12,25%.
"O álcool sempre pressiona a gasolina nesta
época, a novidade deste ano é a intensidade [maior]", afirma o
economista-chefe da consultoria LCA, Bráulio Borges.
Na sua avaliação, a gasolina deve fechar o mês de
abril com alta de 4%. Se a estimativa se comprovar, segundo Elson Telles, a
contribuição do combustível no IPCA será de pelo menos 0,16 ponto percentual no
mês. Somando-se o aumento do álcool, a contribuição pode chegar a 0,22 ponto
percentual.
Para se ter uma ideia, a inflação de março --que
veio acima das expectativas de mercado-- foi de 0,79%.
"Ao longo do mês, a gasolina deve começar a
cair, o que terá efeito no resultado de maio, quando começa a devolver os
aumentos com a entrada da safra", avalia.
Segundo levantamento feito pelo Cepea, da Esalq/
USP, o etanol hidratado --vendido diretamente nas bombas-- já começa a ceder
nas usinas. Mas o anidro na última semana subiu 15,9%.
Para a pesquisadora do Cepea, Miriam Bacchi, o
desequilíbrio é efeito do aumento do consumo da gasolina. Isso porque, diz, o
governo mantém o combustível artificialmente mais barato frente às cotações no
exterior, o que estimula o consumo.
Alta da gasolina representa pressão a mais na inflação
Alta da gasolina representa pressão a mais na inflação
