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Em um cenário tipicamente masculino, é possível encontrar mulheres dispostas a enfrentar o preconceito ainda existente e a realizar o sonho de ser soldado do Exército. Embora sejam isentas do serviço militar, na forma prevista pela Constituição, muitas optam por seguir a carreira por vocação pela profissão militar e estabilidade no emprego, entre outros motivos.
O número de candidatas inscritas nos concursos para as escolas de formação indica o grande interesse da ala feminina. Para ingressar no Exército, a mulher pode servir, voluntariamente, como militar de carreira ou temporária. Para ser de carreira, precisa cursar um dos seguintes estabelecimentos de ensino, como o Instituto Militar de Engenharia (IME), Escola de Administração do Exército (EsAEx) e Escola de Saúde do Exército (EsSEx).
Hoje, as mulheres ocupam cargos em organizações militares de todas as regiões do País. A maioria das oficiais encontra-se nos quartéis-generais, organizações militares de saúde, estabelecimentos de ensino e órgãos de assessoramento do Exército.
No Comando Militar do Oeste (CMO) de Campo Grande, quatro mulheres, na faixa etária de 25 a 37 anos, estão no comando, ocupando cargos de tenentes. Segundo a assessoria do CMO, as mulheres podem ser desde sargentos até oficiais (Tenente, Capitão, Major, Tenente-Coronel, Coronel). O posto mais elevado que uma mulher pode ocupar é o de General-de-Brigada (no Instituto Militar de Engenharia).
Silvana Aparecida Ataíde do Nascimento, 31, é profissional de Informática e ocupa o cargo de 1ª Tenente no CMO. Decidiu entrar para o Exército, onde já se encontra há seis anos, por ter exemplos na família e vontade própria. “Sempre admirei a profissão, principalmente pelo reconhecimento na área de formação”, afirma.
A Tenente explica que entrou para o Exército por meio de processo seletivo, o que em sua opinião é difícil. “Os concursos são muito concorridos, passamos por muitas etapas”. Quando questionada a respeito de preconceito, Silvana revelou nunca ter passado por situação de discriminação, e que pelo contrário sempre teve muito apoio de amigos e dos pais e admiração por parte dos soldados. “Não tive preconceito algum com colegas de trabalho. Os militares nos respeitam pelo trabalho desenvolvido”, explica.
O exemplo de Silvana mostra que a mentalidade da sociedade está mudando e que as mulheres estão ocupando diversos cargos, até mesmo de chefia, em vários setores do mercado de trabalho, da mesma forma que os homens.
Heroína da Independência
A primeira mulher a marcar presença nas fileiras do Exército foi Maria Quitéria, por volta de 1822, e se tornou Patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército. Filha de um sitiante da região de Cachoeira, na Bahia, Maria Quitéria de Jesus Medeiros ficou órfã de mãe aos dez anos, passando a cuidar da casa e de seus dois irmãos mais novos. Apesar de não freqüentar escola, Maria Quitéria aprendeu a montar e a usar armas.
Em 1822, o Exército brasileiro realizou campanhas para o alistamento de soldados para lutar pela consolidação da independência, frente à resistência dos portugueses na Bahia. Maria Quitéria pediu ao seu pai para se alistar, mas não obteve permissão. Fugiu, então, para casa de sua irmã Tereza e de seu cunhado, José Cordeiro de Medeiros e vestida com roupas de homem e com os cabelos cortados, alistou-se como soldado Medeiros.
Passou a integrar o Batalhão dos Voluntários do Príncipe. Depois, Maria Quitéria foi descoberta por seu pai, mas impedida de deixar o exército pelo major Silva e Castro, que lhe reconheceu grandes qualidades militares.
Combateu na foz do Rio Paraguaçu, onde demonstrou heroísmo. Participou também dos combates na Pituba e em Itapuã, sendo sempre destacada por sua coragem. Com o fim da campanha na Bahia, foi ao Rio de Janeiro, onde recebeu das mãos do imperador D. Pedro 1º. a condecoração de "Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro”.
Em 1953, cem anos depois de sua morte, o governo brasileiro ordenou que "em todos os estabelecimentos, repartições e unidades do Exército fosse inaugurado o retrato da insigne patriota".
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