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Povos tradicionais, movimentos sociais, organizações não governamentais e ativistas que participam do Fórum
Alternativo Mundial da Água (Fama) divulgaram no fim da tarde desta quarta-feira (21) declaração final do
encontro.
“Água não é e não pode ser mercadoria”, pois “água é vida, é saúde, é alimento, é território, é direito humano, é um
bem comum sagrado”, diz a carta, que sintetiza as discussões e diberações tomadas nas diversas atividades
realizadas no Fama, como nas dezenas de debates e nos espaços de encontros de povos que estão em luta, em
diferentes territórios, em defesa da água.
É o caso de Antônia Melo, integrante do movimento Xingu Vivo para Sempre, que se posiciona contra a construção
da hidrelétrica de Belo Monte. “A água é vida para todos os povos, mas ela é essencial para os povos e as
comunidades tradicionais. Eles não podem viver sem um rio para pescar, não podem viver sem o seu pedaço de
terra plantado na beira do rio para ter o seu alimento. Retirá-la deles é uma tirania, é um crime contra a
humanidade”, defende.
Hoje, com a usina em funcionamento, ela diz que é possível “ver claramente, com a expulsão das famílias do Médio
Xingu para dar lugar ao lago de Belo Monte, que as famílias ficaram sem vida. Até dizem que parece uma multidão
de mortos-vivos andando, porque elas foram tiradas do seu habitat, perderam a sua identidade”, lamenta. Diante
desse quadro, Antônia Melo afirma que é preciso repensar o modelo de desenvolvimento e frear a destruição das
riquezas naturais.
Os participantes do Fama destacam que a água deve ser tratada como bem comum. Defendem “o caráter público,
comunitário e popular dos sistemas urbanos de gestão e cuidado da água e do saneamento”. O documento final
aborda também a importância da defesa da democracia, pois “só por meio de processos democráticos é que os
povos podem construir o controle social e o cuidado sobre as águas”.
A carta traz crtícas ao neoliberalismo, já que os participantes do Fama entendem que é esse sistema que “busca
intensificar a transformação dos bens comuns em mercadoria, através de processos de privatização, precificação e
financeirização”, o que aprofunda desigualdades, atingindo sobremaneira populações mais vulneráveis, e a
destruição da natureza.
Sobre a apropriação de territórios e bens naturais por empresas, a carta traz uma crítica ao Fórum Mundial da
Água, evento que reúne governos, empresas, parlamentares, juízes e especialistas e também está sendo realizado
em Brasília. “O resultado desejado pelas corporações é a invasão, apropriação e o controle político e econômico
dos territórios, das nascentes, rios e reservatórios, para atender os interesses do agronegócio, hidronegócio,
indústria extrativista, mineração, especulação imobiliária e geração de energia elétrica”, diz a declaração.
O fórum alternativo também citou crimes ambientais e o assassinato de lideranças. Segundo o levantamento
Defensores da Terra, da Global Witness, o Brasil é o país mais letal para ambientalistas. Em 2016, 49 foram mortos
no país, quase um quarto do total de assassinatos desse tipo registrados no mundo.
Integrante da organização do Fama, Thiago Ávila aponta que a mobilização terá continuidade e cita três eixos
centrais: a luta contra a exploração, pois a desigualdade também é parte da problemática da água; contra as
opressões, pois são populações tradicionais, mulheres e negros que mais sofrem, como ocorre com os chamados
refugiados climáticos e ambientais que são forçados a sair dos seus territórios devido às mudanças climáticas; e o
fim da destruição da natureza.
“Nós conseguimos deixar um recado muito contundente de que essa luta vai se intensificar. Ter juntado povos do
Rio Doce, com os povos da Bolívia, da Cidade do Cabo, da Nigéria, da Palestina traz para nós a capacidade de
pensar a força que a gente tem também. Nós voltamos agora para os nossos territórios com essa tarefa e com uma
capacidade de ter vitórias muito concretas. A luta contra a privatização da água, por direitos dos povos e da
natureza nunca mais será a mesma depois do maior evento em defesa da água do planeta”, avaliou.
Antes do Brasil, o Fama foi realizado na Coreia do Sul e na França, sempre como um evento de contraposição ao
Fórum Mundial da Água. Nesta edição, participaram cerca de 7 mil pessoas ao longo de seis dias, entre as quais 200
vindas de 37 outros países. Nesta quinta-feira (22), o Fama será encerrado. Pela manhã, os participantes realizarão
ato, a partir das 7h. A concentração será no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade.
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