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Em depoimento no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados,
o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, confirmou o repasse
de dinheiro oriundo do esquema de propina na Petrobras ao presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Baiano disse que os pagamentos eram
feitos em espécie e que os repasses ocorreram em 2011 e 2012.
“Houve reunião de Júlio Camargo [empresário] com Cunha para
tratar diretamente desses valores, no dia 18 de setembro de 2011, no Leblon
onde ficou acertado o pagamento de US$ 5 milhões. Pessoalmente entreguei
R$ 4 milhões para Cunha", disse aos deputados do conselho.
Baiano é apontado na Operação Lava Jato, da Polícia Federal,
como operador de recursos para o PMDB no esquema de pagamento de propina em
negócios irregulares envolvendo a Petrobras. Baiano confirmou aos deputados as
informações iniciais prestadas por outros delatores do esquema, o doleiro
Alberto Youssef e o empresário Júlio Camargo. De acordo com Camargo, Cunha
cobrou o pagamento a Baiano de subornos atrasados no valor de US$ 15 milhões,
para viabilizar a contratação de dois navios-sondas do estaleiro Samsung,
representado no Brasil por Camargo.
Questionado pelo deputado Marcos Rogério (DEM-RO), relator
do processo contra Cunha, se tinha conhecimento de repasse de propina a Cunha
em contas no exterior, Baiano disse não ter conhecimento de que houvesse
repasse de dinheiro para contas no exterior. Segundo Fernando Baiano, os
valores eram entregues pelo doleiro Alberto Youssef e depois ele levava a
quantia para Cunha. “A pessoa que recebia a propina era um funcionário do
escritório de Cunha no Rio de Janeiro, chamada Altair”, acrescentou.
Durante o depoimento, o lobista disse que conheceu Cunha em
2009, em um café da manhã, em um hotel. Posteriormente, o deputado questionou
Baiano sobre a possibilidade de doação para campanha eleitoral. Baiano disse que
as empresas não doavam para campanha, mas que Cunha disse que poderia ajudá-lo
a cobrar uma dívida de US$ 16 milhões de Júlio Camargo pela intermediação de
contratos de navios- sonda com a Petrobras. “E eu sinalizei que se ele me
ajudasse na cobrança dessa dívida eu poderia ajudar na campanha”, disse o
lobista, que afirmou que se encontrava com Cunha nos finais de semana no
escritório do deputado no Rio de Janeiro.
Cunha
Cunha nega as acusações. O advogado do peemedebista, Marcelo
Nobre, contestou as declarações de Fernando Baiano a respeito do pagamento de
propina, alegando que as acusações não tem a ver com o processo em tramitação
no Conselho de Ética, que apura se o presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
quebrou o decoro parlamentar ao afirmar não ter contas no
exterior. Documentos do Ministério Público da Suíça revelaram a existência
de contas ligadas a Cunha naquele país. O presidente da Câmara nega ser dono
das contas, que, segundo ele, são administradas por trustes e afirma ser o
“usufrutuário” dos ativos mantidos no exterior.
Para a defesa de Cunha, o depoimento de Baiano não pode ser
usado no processo no colegiado. “Não podemos admitir que discutamos aqui a
imputação de vantagem indevida se sequer tivemos condição de apresentar a
defesa nesse sentido e essa imputação não foi aceita nesse conselho”, criticou
o advogado de Cunha, Marcelo Nobre.
Na semana passada, o vice-presidente da Casa, Waldir
Maranhão (PP-MA), determinou que o foco da apuração no colegiado fique somente
sobre a suspeita de que Cunha teria contas bancárias secretas no exterior e de
que teria mentido sobre a existência delas em depoimento à Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) da Petrobras. “Não foi ele quem limitou, foi este conselho,
foi o próprio colegiado quando decidiu excluir do processo as questões
relativas a vantagens indevidas”, defendeu.
Para o deputado Julio Delgado (PSB-MG), o depoimento de
Baiano deixa claro que Cunha mentiu na CPI da Petrobras ao dizer que Fernando
Baiano nunca foi a casa dele. "Já estive na casa dele [Cunha]", disse
Baiano ao ser questionado pelo deputado. Delgado também criticou a estratégia
da defesa de Cunha de querer limitar as investigações. "O campeão da Lava
Jato é o Eduardo Cunha. É o que tem mais processos na Lava Jato", disse o
deputado.
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