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No município paulista de Águas de Santa Bárbara, a unidade
do Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes não resistiu à falta de
investimentos. Ali foi realizada entre 2003 e 2012 uma pesquisa com óleo de
girassol para produção de biocombustível.
Uma alternativa econômica para os produtores que poderia
gerar um litro de biodiesel até 25% mais eficiente. Mas veículos velhos e
falta de mão de obra decretaram o fim da pesquisa. Nilson Leal de Oliveira,
funcionário do almoxarifado da unidade, lembra quando tinha mais de 50 colegas.
Restam sete e, destes, quatro estão prestes a se aposentar. Ele mesmo já
poderia ter parado há oito anos, mas resolveu continuar e hoje acumula cinco
atividades.
– Muitos se aposentaram, morreram, se transferiram pra outra
unidade. Na época que comecei eram 50 funcionários, hoje tem meia dúzia. É uma
pena. Eu não queria que acabasse, mas hoje agricultura tá esquecida – lamenta
Nilson.
O funcionário diz que quer se aposentar neste ano, mas
se entristece porque sabe que ninguém ficará no seu lugar.
– Se eu sair, este cargo acaba. Eu queria que ficasse
alguém, mas não tem concurso. É complicado, né...
A mesma falta de funcionários que parou uma pesquisa
inovadora e com ótimo potencial de geração de emprego e renda afeta várias
unidades de extensão rural e assistência técnica no estado de São Paulo. Em
Juquitiba, por exemplo, a Casa da Agricultura funciona em uma sala
cedida pela prefeitura. É numa pequena sala, com paredes mofadas e
computador emprestado, que uma única funcionária atende cerca de 100 produtores
por mês.
A coordenadora Casa da Agricultura de Juquitiba, Maria
Márcia dos Santos, conta que frequentemente tem que atender os agricultores do
lado de fora da casa.
– Vem um, vem dois, aí eu vou atender lá fora pra poder
conversar e dar melhor assistência. Não vou dizer que é fácil não. É bem
complicado – diz Maria Márcia.
Ainda assim, para os produtores rurais de Juquitiba, a
existência de uma técnica disponível para atender suas dúvidas e problemas é
fundamental, como aponta a agricultora Satiko Kitamura.
– É ela que me ajuda. Eu venho aqui toda semana ou falo por
celular com ela. Ela se vira bem porque o espaço é pequeno aqui.
A própria regional da Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral (Cati) de Registro, responsável pelos municípios de Águas de Santa
Bárbara e Juquiti, não está em situação muito melhor que os outros exemplos já
mostrados nesta série de reportagens.
O prédio antigo, de três andares, chegou a ter quase 100
funcionários no passado. Hoje parece mais um casarão abandonado, com
inúmeras salas vazias e menos de 30 funcionários. Veículos antigos, estragados,
fazem número no pátio. Até a limpeza no telhado é feita com equipamento
particular do diretor.
A regional de Registro, a 200 quilômetros da capital, é
responsável por 17 municípios, nem todos com Casas da Agricultura. São apenas
10 técnicos disponíveis, entre engenheiros agrônomos, médicos veterinários e
zootecnistas. Pouco para uma região formada basicamente por pequenas e médias
propriedades e responsável por 50% da produção de banana do estado de São
Paulo.
Aposentado em 2013, Luiz Penteado foi o diretor da regional
durante 15 anos. Ele lembra com saudade dos tempos em que a agricultura era bem
mais valorizada.
– Nós tínhamos os 17 municípios atendidos com as casas da
agricultura, 150 funcionários. Hoje, se tiver 30 é muito. Em épocas de crise,
chega ao ponto de o agricultor dar 10 litros de combustível para o técnico
poder ir atender a propriedade dele.
Uma opção que, ao que tudo indica, deixará de existir
num futuro próximo. O secretário da Agricultura de São Paulo, Arnaldo Jardim,
não acredita na estrutura tradicional da assistência. Para ele, ela deve ser
substituída pelas novas tecnologias.
– Ter um grande contingente de técnicos que visitam de
propriedade em propriedade para ir ali ensinar uma coisa, não há jeito de
reproduzir isso. Hoje o produtor rural tem acesso à informação instantânea, os
sites passaram a ter acessos muitos grandes, nós vamos ter que promover um
choque de utilização desses instrumentos. Talvez trazer o produtor até aqui e
utilizar muito as estruturas de representação. É o que eu imagino como forma de
fazer com que este conhecimento possa chegar a ponta gerar agregação de renda e
tudo mais.
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