O
Estado de São Paulo tem um déficit de 49.085 professores efetivos na rede de
ensino - 21% dos cargos necessários. Para atender os alunos, o governo lança
mão de 49 mil docentes temporários, o que ainda assim é insuficiente: no fim do
primeiro semestre, a rede tinha 4,8 mil turmas sem aula de alguma disciplina -
fazendo-se uma média é como se quatro em cada cinco escolas tivessem turma sem
professor. Os dados, que não são divulgados pelo Estado - alegando a grande
dinâmica de atribuição de aulas -, estão em um documento encaminhado ao
Ministério Público. As informações são do
Jornal O Estado de São Paulo.
O
cálculo do déficit é da própria Coordenadoria de Gestão de Recursos Humanos da
Secretaria de Estado de Educação. Os dados foram obtidos com exclusividade peloEstado.
Falta de professores e a grande quantidade de profissionais temporários são os
grandes gargalos da gestão tucana na Educação.
A
maior necessidade é de professores de Matemática, com um déficit de 10.508
efetivos. Em seguida, aparecem as disciplinas de Português, Geografia e
Educação Artística. Mesmo recorrendo a um grande número de temporários, que
cresceu 69% desde maio de 2012, o Estado não consegue preencher todas as aulas.
Entre as 4,8 mil sem professor atribuído, Matemática também tem a pior
situação: são 833 turmas livres nessa disciplina, seguida de Geografia (767) e
Sociologia (767).
A
situação de aulas sem atribuição de professor atinge todo o Estado. No
levantamento, com data de 7 de junho, a divisão é feita por diretoria de ensino
e não detalha em quais escolas há o problema.
Apenas
9 de 91 diretorias de ensino tinham todas as aulas com professores. A situação
é mais complicada na capital e na Região Metropolitana. Na diretoria de Suzano,
por exemplo, havia 260 aulas sem professor, a pior situação. Na capital, as
zonas leste e sul registram os maiores números de aulas livres. Juntas,
concentram 78% das lacunas. Só na zona leste, 203 turmas estavam sem professor
de Matemática. Na sul, eram 144.
A
Secretaria de Educação defende que os alunos podem ter ficado sem a aula da
disciplina, mas há professores eventuais. Segundo o chefe de gabinete da pasta,
Fernando Padula, faltam 200 professores para suprir essas aulas não atribuídas.
"Não quer dizer que não teve professor, teve atividade com professor
eventual", diz. "São dois problemas: a falta de professores e
professores que faltam. Nem sempre a escola tem à disposição professor de
determinada disciplina, há um problema nacional em Exatas."
Segundo
Padula, há 22 mil servidores da educação em licença médica atualmente. Em
média, cada professor da rede estadual teve 21 ausências no ano passado por
licença-saúde. Ele também cita a dificuldade de fixação de profissionais em
determinadas regiões, como as franjas sul e leste da cidade.
Sem
aula. A estudante Jennifer Portugal, de 15 anos, não teve professor de
Química no ano passado inteiro. Aluna da Escola Estadual Roberto Mange, na zona
sul de São Paulo, ela também ficou sem aulas de Português e Sociologia neste
ano, problema só resolvido pouco antes do fim do semestre. "A gente
reclamou e falaram que iam resolver. Mas nada foi feito, parece que não se
importam", diz. "Ninguém falou nada sobre recuperar ou repor as
aulas." Segundo a Secretaria de Educação, as escolas têm de organizar
reposições ou reforço.
Para
Priscila Cruz, da ONG Todos Pela Educação, o prejuízo é claro. "O aluno
que não tem aula aprende menos e acumula deficiências", diz. "Os
dados mostram que a proporção de alunos com aprendizado adequado vai caindo a
cada ano."
O
Grupo de Atuação Especial de Educação (Geduc), do Ministério Público Estadual,
acompanha o tema do absenteísmo e falta de professores na rede. "Qualquer
solução para a educação tem pouca efetividade sem o professor. Há um cenário de
desresponsabilização, da secretaria aos professores", diz o promotor João
Paulo Faustinoni e Silva.