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O caminho foi tortuoso. Se não fosse a fome, talvez
Tiago de Godói Leivas, hoje com
25 anos, não teria se tornado um empreendedor. “Conheci a ONG porque estavam
dando cachorro-quente e eu estava com fome”. A necessidade financeira fez com
que Leivas, na época com 10 anos, passasse a frequentar o Instituto Villaget,
centro de capacitação profissional localizado em Novo Hamburgo, na Grande Porto
Alegre. Graças ao aprendizado, ele se tornou empresário e tem lucro de R$ 18
mil ao ano.
De
família humilde, Leivas começou a trabalhar aos 9 anos como catador de papelão
e latinha. Um ano depois, no horário livre, participava de aulas de futebol,
informática e empreendedorismo na ONG.
Após
mais de uma década no centro de capacitação, Leivas deixou a sala de aula para
montar um escritório. Atualmente, ele é sócio e gerente de produção da
Cooperget, fabricante de calçados ecológicos, produzidos a partir de matéria
orgânica ou reciclada.
A
cooperativa foi criada em 2009 por cinco jovens recém-formados do Instituto
Villaget a partir dos conhecimentos obtidos nas aulas de empreendedorismo da
ONG.
“Trabalhei
para uma empresa que produzia sapatos e percebi que os donos ganhavam muito
dinheiro em cima do meu trabalho. Cheguei à conclusão de que tinha potencial
para fazer mais por mim mesmo”, explica Leivas, que é técnico de calçado e
pretende fazer faculdade de engenharia química.
Como
a empresa é uma cooperativa, todos os dez integrantes são sócios e compartilham
as decisões estratégias do negócio. O lucro, contudo, é dividido conforme
cargo, dedicação e qualificação, variando de R$ 678 (um salário mínimo) a R$
1,5 mil ao mês, como é o caso de Leivas. O faturamento da empresa não foi
revelado.
A Cooperget produz atualmente 500 pares sapatos por mês. Para o consumidor, o produto chega a um preço médio de aproximadamente R$ 120.
A
cooperativa já possui uma loja própria em Novo Hamburgo e planeja expandir as
vendas para o Sudeste a partir do ano que vem. Também há conversas
"avançadas" com empresas da Europa e da Austrália.
No
início do mês, a cooperativa participou pela primeira vez da Feira
Internacional da Moda em Calçados e Acessórios (Francal), maior feira de
calçados do País, que ocorreu no Parque de Exposições Anhembi, na capital
paulista. O objetivo era tornar a marca mais conhecida.
De
acordo com o sociólogo Mario Pereira, de 41 anos, coordenador do Instituto
Villaget, a cooperativa começou com a produção artesanal de calçados para uso
dos próprios estudantes. “Eles queriam tênis de skate, mas não tinham dinheiro
para comprar. Criamos um núcleo para ensiná-los a produzir os sapatos,
vendê-los aos colegas e administrar o dinheiro”, recorda.
Quando
os jovens completaram 18 anos e tiveram de deixar a ONG, surgiu a ideia de o
projeto seguir por meio da criação de uma cooperativa. “É uma sensação de dever
cumprido, como se eles ganhassem asas e voassem”, comemora o coordenador. O
instituto abre anualmente 30 vagas para jovens carentes do Rio Grande do Sul.
A
tesoureira Indiara Martins de Castro, de 21 anos, é uma das estudantes que não
quis abandonar o projeto Villaget e decidiu abrir a cooperativa junto com
Godói. Na ONG desde os 14 anos, ela participou de aulas de crochê, oficina de
dança e informática.
A
falta de carteira de trabalho assinada, conta, não fez diferença para sua
carreira. “Gosto da liberdade de construir minha própria história. A
cooperativa me ajudou a ser auto-suficiente e me deu poder financeiro para
ajudar a minha família”, destaca ela, que planeja fazer faculdade de
administração e cursos de inglês e espanhol.
Filha
de costureira e artesão, a empresária uniu as habilidades manuais à facilidade
com números para trabalhar como tesoureira e administradora da loja da
Cooperget. “O projeto transformou a Vila Getúlio Vargas [onde funciona o
instituto]. Quando entrei na ONG, a marginalidade era grande e as famílias eram
analfabetas. Hoje, os jovens têm condições de estudar e sonhar com um futuro
melhor.”
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