O
advogado que defende os quatro homens que, segundo a polícia paranaense, teriam
confessado que estupraram e mataram a adolescente Tayná Adriane da Silva, 14,
encontrada morta no último dia 28 em Colombo (região metropolitana de Curitiba),
disse nesta quinta-feira (11) que seus clientes foram presos enquanto a jovem
ainda estava viva. Os delegados que cuidam do caso foram afastados das suas
funções nesta quinta. As informações são do portal UOL.
"Uma
fonte segura, do Instituto de Criminalística, me afirma isso. Afirmo com
segurança que ela morreu depois que meus clientes foram presos. E repito tantas
vezes quantas forem necessárias" disse o criminalista Roberto Rolim de
Moura Júnior, que defende "voluntariamente" os quatro suspeitos.
Rolim
de Moura falou que aguarda a publicação de laudos que informem há quanto tempo
Tayná está morta para, se preciso, requisitar novos exames. "O que preciso
é do tempo aproximado da morte."
Os
quatro suspeitos, que segundo o advogado têm ficha criminal limpa, foram presos
por volta das 13h da quinta-feira passada (27), segundo o advogado. Tayná,
desaparecida desde a terça (25), foi encontrada morta e enterrada na sexta à
tarde (28).
Delegados são afastados de caso de jovem estuprada no Paraná e outros vídeos - TV UOL
A
reportagem procurou MPE (Ministério Público Estadual) e Secretaria Estadual de
Segurança Pública para que comentassem as declarações. Mas, como o inquérito
corre sob sigilo judicial, ambos informaram que não comentariam a afirmação de
Rolim de Moura.
O UOL também
conversou, por telefone, com um funcionário do Instituto de Criminalística,
que, aparentando desconforto com a pergunta, disse que não podia dizer o que
consta do laudo da necropsia do corpo de Tayná.
Delegados
Também
em nota emitida nesta quinta, a Polícia Civil informou que estão afastados
temporariamente de suas "funções policiais" os delegados Agenor
Salgado Filho e delegado Silvan Rodney Pereira. Salgado era o chefe da
corporação na região metropolitana de Curitiba, e Pereira prendeu os suspeitos
e afirmou que eles confessaram o crime.
Segundo
a nota, "o afastamento é para que as investigações sobre o caso ocorram de
forma transparente e sem interferências".
Os
quatro suspeitos, Sérgio Amorin da Silva Filho, 22, Paulo Henrique Camargo
Cunha, 25, Adriano Batista, 23, e Ezequiel Batista, 22, foram apresentados à
imprensa após terem confessado o crime, segundo a polícia
Na
terça (9), porém, a Secretaria da Segurança Pública admitiu que o sêmen
encontrado nas roupas íntimas de Tayná não é de nenhum deles.
Ainda
na sexta (28), a perita da Polícia Civil dissera que não havia sinais de
estupro, pela maneira como a garota estava vestida.
Na
terça (9), ao chegar para uma reunião sobre o caso, Jussara Joeckel reafirmou
que "não há marcas de estupro ou abuso, nem fissuras" nos órgãos
genitais da garota.
Tortura
Na
quarta-feira (10), integrantes da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) ouviram dos suspeitos que a confissão do estupro e da
morte de Tayná ocorreu mediante tortura de policiais em delegacias.
"Estamos
convictos de que eles foram seriamente agredidos durante o período em que
estiveram presos. A qualificação como tortura depende de outras circunstâncias,
dos porquês das agressões. A tortura é o emprego da violência para obter uma
informação. Eles relatam tortura, e é indiscutível de que sofreram agressões
brutais", disse o presidente da OAB-PR, Juliano Breda.
"Eles
relataram ter sido submetidos a socos, pontapés, choques elétricos, abusos
sexuais, com a introdução de um cabo de vassoura no ânus de um deles e foram
coagidos com o uso de armas para que praticassem sexo entre si", afirmou
ao UOL.
"Recebemos
algumas acusações de prática de tortura e agressões [pela polícia], mas jamais
com os relatos desse caso, que é gravíssimo", falou Breda. Ele irá pedir,
na segunda-feira (15), que a Procuradoria Geral da República transfira o
apuração das denúncias de tortura para a Justiça Federal.
"A
Constituição prevê isso, em caso de grave violação dos direitos humanos. Creio
que, assim, o caso pode ser investigado de forma mais aprofundada, com mais
independência, pois é possível que tenhamos a participação de muitas
pessoas", justificou.
Investigação
da Promotoria
Em
nota à imprensa, o MPE informou que um novo procedimento investigatório foi
aberto para apurar as denúncias de tortura. "Promotores do Gaeco (Grupo de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) foram especialmente designados
pela Procuradoria-Geral de Justiça para atuar, em conjunto com a Promotoria de
Justiça de Colombo, na investigação."
Prossegue
o texto: "Os promotores de Justiça estiveram na tarde desta quinta-feira,
na Casa de Custódia, para contato pessoal com os presos e para a apreensão das
roupas que teriam sido usadas por eles no dia da suposta tortura. O MPE
encaminhará, ainda, os rapazes para novo exame de corpo de delito no Instituto
Médico Legal, que será acompanhado pelos promotores de Justiça
designados".