Ao anunciar a redução da tarifa de ônibus, trens e metrô de R$ 3,20 para
R$ 3 na segunda-feira, o prefeito Fernando Haddad (PT) falou nesta
quarta-feira, 19, da necessidade de sacrificar investimentos e disse que se
trata de "um gesto de aproximação, de abertura, de entendimento, de
manutenção do espírito de democracia, do convívio pacífico".
"Precisamos agora abrir a discussão sobre as consequências da decisão,
para hoje e para o futuro", disse o prefeito.
Seis horas antes, ao fazer um balanço dos prejuízos causados ao Edifício
Matarazzo, sede do governo municipal, durante a tentativa de invasão na
terça-feira, Haddad chegou a dizer que reduzir a tarifa agora seria
"dialogar com o populismo".
"As pessoas têm de compreender que essas escolhas são difíceis para
o governante, que a coisa mais fácil do mundo é você agradar no curto prazo. É
você tomar uma decisão de caráter populista, sem explicar para a sociedade
implicações das decisões que você está tomando", afirmou, pela manhã.
Haddad, porém, já havia sido pressionado a ceder pela presidente Dilma
Rousseff e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem se reuniu
anteontem. O temor era que as manifestações atingissem Dilma, candidata à
reeleição em 2014.
Consequências
O impacto econômico da medida ainda precisará ser detalhado nos próximos
dias. "Agora, com o orçamento que nós temos, fomos a um patamar de
subsídio da ordem de R$ 1,250 bilhão", disse Haddad. Conforme números
apresentados anteontem, os R$ 0,20 a menos representam, nas contas dele, um
acréscimo de cerca de R$ 200 milhões nos gastos da Prefeitura neste ano.
Já em relação ao Estado, a manutenção da tarifa em R$ 3 exigirá pelo
menos R$ 210 milhões/ano em investimentos da Companhia do Metropolitano de São
Paulo (Metrô) e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
No plano federal e político, porém, a medida pode ter efeito contrário.
No combate à inflação, a revogação do aumento deve render um alívio de pelo
menos 0,21 ponto porcentual no índice oficial de inflação, refletindo neste e
no próximo mês - como pode ser adotada "em cascata" por outras
cidades, o alívio pode ser ainda maior.
Para especialistas ouvidos pela reportagem, a qualidade do serviço de
metrô, trem e ônibus se manterá estável. Isso porque os protestos - que ainda
mostraram o poder de reunião via redes sociais - tornaram as pessoas mais
ciosas da questão e o ônus político de sua deterioração tende a ser cada vez
maior. (Colaboraram Carla Araújo e Gustavo Porto). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.