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Vim
para Três Lagoas em busca de trabalho e conquista, já que, aqui, há empregos e
muitas indústrias. Mas, cheguei e não tinha onde morar. Acabei acampando nesse
local”. Essa é a história contada por Maria de Fátima Vicente Bezerra, de 35
anos, que mora com quatro filhos e o marido, em condições sub-humanas, em um
barraco, sem nenhuma infraestrutura, construído em um terreno da Prefeitura na
Vila Piloto III. As informações são do
Jornal do Povo de Três Lagoas.
Ela
disse que a família não passa fome, pois trabalha como catadora de materiais
recicláveis e o marido faz “bico”. Apesar disso, revelou que as crianças
precisam de muitas coisas. “É remédio, roupa, sapato, são várias coisas de que
eles precisam. Quando chove, molha tudo aqui, dá medo do vento... é isso”,
contou. Apesar de morar em um lugar sem nenhum saneamento básico, Maria de
Fátima disse que não se arrepende de ter deixado Votuporanga (SP) para ter
vindo em busca de melhores condições de vida em Três Lagoas. “Não me arrependo,
porque a vida é uma luta. Temos que lutar para dar segurança e garantir
melhores condições de vida para as minhas crianças”, ressaltou.
Quando
ela chegou ao local, outras famílias já ocupavam a área, mas foram embora.
Entretanto, o terreno passou a ser ocupado por mais duas famílias, além da
dela. No mês passado, outras famílias chegaram a invadir o espaço, mas sob
“ameaça” da Prefeitura, que iria pedir a desocupação, deixaram o local, mas os
terrenos ficaram demarcados, caso, segundo a moradora, a administração
municipal venha a doar a área.
FAVELA
Para o arquiteto Fayez José Rizk, que foi um dos responsáveis pela elaboração e
revisão do Plano Diretor da cidade, a possibilidade de Três Lagoas ter favelas
é grande. “A cidade tornou-se um polo de atração. A notícia espalha-se rápido.
Cada vez que a imprensa faz uma reportagem falando que aí tem emprego abre uma
linha migratória”, explicou. Em razão disso, segundo o arquiteto, os
proprietários de imóveis aumentam o preço dos aluguéis e de suas áreas,
favorecendo assim as invasões. Todo o mundo mora em algum lugar, nem que seja
por invasão”, comentou.
Os
problemas vêm ocorrendo em Três Lagoas e podem se agravar, segundo o arquiteto,
por falta de planejamento urbano. Ele explicou que, quando foi elaborado o
Plano Diretor, a Prefeitura ficou dotada de uma série de instrumentos de
controle e de estrutura administrativa, as quais até hoje não foram implantadas.
Desde que esteve em Três Lagoas, Fayez sempre “bateu na tecla” de que a
Secretaria de Obras não é Secretaria de Urbanismo. “Isso eu vinha dizendo desde
que estava aí, por isso, fizemos uma reformulação no Plano Diretor, mas cadê?”,
questionou.
De
acordo com o arquiteto, no Plano Diretor já estão previstos inúmeros
instrumentos de controle para evitar esses tipos de problemas, inclusive de
preço da terra, obrigação de edificação e do direito de preempção [compra
antecipada]. Nada foi inventado, tudo está no Estatuto da Cidade. “Falta
planejamento urbano”, frisou.
O
arquiteto explicou que planejamento urbano é o encadeamento de uma série de
ações e políticas públicas, desde a educação, saúde, assistência social,
trânsito, moradias, entre outras. Ele comentou que o poder público tem que se
antecipar antes que os problemas ocorram. “Ela [Prefeitura] tem que ter
soluções antecipadas. Isso é planejamento”, disse.
Questionado
se a Prefeitura não deveria proibir essas invasões, respondeu: “Não basta proibir.
Qual a solução que ela oferece? A Prefeitura tem áreas para oferecer, projetos
de construção, políticas de encaminhamento?”, indagou. Como exemplo disso, ele
disse que, em Campo Grande, os migrantes são atendidos em um centro
especializado, encaminhados para trabalho, até temporário, e, em alguns casos,
recebem passagem de volta.
PERMANECEM
No ano passado, o Jornal do Povo publicou uma matéria que retratava
situação parecida das famílias da Vila Piloto. Na época, três famílias
invadiram um terreno da Prefeitura, no bairro Vila Verde, e construíram
barracos. Uma delas veio da Bahia, também em busca de condições de vida melhor.
A Prefeitura havia alegado que estaria tomando providencias e que essas
famílias deveriam deixar o local.
A
reportagem retornou ontem ao bairro e os barracos continuam do mesmo jeito. Há
famílias morando neles, sem qualquer infraestrutura. Uma delas recebeu mais um
integrante e agora tem nove pessoas na moradia. Ao lado, há mais dois barracos,
só que estão ocupados por outras famílias. Em um deles, são sete crianças. Em
outro, tem uma adolescente de 15 anos que está grávida.
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