Região
vai perdendo fama de Terra do Boi. Foto:
Fabiano Marinho / Studio Fmarinho
Os
canaviais estão avançando sobre os pastos na região de Andradina e Araçatuba.
De cinco anos para cá, exclusivamente em áreas de pasto - a região, conhecida
como Terra do Boi, vai deixando para trás o epíteto, dada a quantidade de
usinas de açúcar e álcool que por ali se instalaram - pelo menos 15. Com informações Jornal O Estado de São
Paulo.
Restrições. O pasto tem se firmado como
"a nova fronteira" agrícola num cenário em que se acentuam as
restrições ao desmatamento e também em lugares nos quais, na verdade, já quase
não há mata nativa a ser derrubada. Além disso, dependendo da região e da distância
em relação aos polos produtores, desmatar já não é economicamente viável. Área
aberta para a expansão é o que não falta, aliás. Segundo estudo do professor da
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Gerd Sparovek, o
País dispõe de 60 milhões de hectares de pastagens com elevada ou média aptidão
agrícola, dos quais boa parte cedo ou tarde será convertida em lavoura para
atender à crescente demanda mundial por alimentos.
Cana-de-açúcar. A conversão ocorre de maneira
acentuada em algumas regiões, apontam estudos do Instituto de Estudos do
Comércio e Negociações Internacionais (Icone), baseados em levantamentos do
IBGE, Inpe, SOS Mata Atlântica, Probio e Lapig. No Sudeste, por exemplo, entre
2005 e 2008, o pasto foi o grande doador de terras para a expansão da
cana-de-açúcar. De 1,7 milhão de hectares sobre os quais a cana avançou - a
área total plantada saltou de 3,6 milhões de hectares para 5,3 milhões de
hectares no período, segundo o IBGE -, nada menos que 900 mil hectares foram cedidos
pelas pastagens - ante cerca de 600 mil hectares pelas lavouras anuais e apenas
5 mil hectares pelas áreas de mata nativa.
O
município de Andradina, com cinco usinas de açúcar e álcool e 140 mil hectares
de cana - "Sendo 98% dos canaviais instalados em pastagens
degradadas", afirma o diretor da Associação de Fornecedores de Cana da
Alta Noroeste (Afocan), Nilson de Souza Ochiuto -, deve expandir suas lavouras
de cana em 15 mil hectares em 2012. "Tudo sobre pastos", afirma.
"A pecuária está se intensificando, indo para confinamentos", explica
Ochiuto, que arrenda 1.400 hectares no município para plantar cana. "Os
pastos por aqui comportam em média apenas 1 animal por hectare, quando o ideal
seria 4 ou 5 animais/hectare. A cana dá mais lucro", diz Ochiuto.
Em
Araçatuba, na mesma região, o presidente da Associação de Plantadores de Cana e
produtor rural Fernando Girardi concorda com Ochiuto. "Na última safra
plantei 500 hectares e na próxima aumentarei a área de cana em mais 150
hectares", diz Girardi. "Obrigatoriamente em área de pasto."
Melhorias. Junto com a cana, defende
Girardi, vêm melhorias do solo, sociais e ambientais. "A cana exige mais
adubação e calagem, além de plantio em curvas de nível", diz o produtor.
"Além disso, o setor canavieiro segue uma rígida legislação ambiental e
nenhum projeto é aprovado se a lei não for seguida." Assim, na opinião de
Girardi, a região de Araçatuba só ganhou com a cana. "Onde só existia
pasto degradado passou a existir uma terra rica, rentável e bem cuidada."