A
Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) colocou em discussão no governo
federal a possibilidade de converter o abono salarial do PIS-Pasep e o salário
família em espécie de bolsa-trabalhador, que poderia incrementar em até 20% a
renda de quem ganha até dois salários mínimos.
Nas contas do secretário-executivo da SAE, Ricardo Paes de Barros, se uma
pessoa recebe hoje R$ 600, com a bolsa, poderá receber R$ 720 ao mês O governo
discute ainda se o pagamento dessa bolsa teria alguma condição específica, por
exemplo, condicionando sua entrega a investimentos em estudo do trabalhador.
Nesse caso, a preocupação seria em como controlar os gastos de cada pessoa.
Isso não vai requerer mais gasto público, afirmou Paes de Barros na
segunda-feira, durante o seminário “Desafios da Nova Classe Média”, promovido
pela SAE. “O abono salarial e o salário família, em certo sentido são isso.”
O abono é equivalente a um salário mínimo e pago a quem tem cadastro no
PIS-Pasep há mais de cinco anos, recebeu até dois salários mínimos por mês e
trabalhou formalmente por pelo menos 30 dias no ano anterior ao do pagamento.
Pela complexidade dos critérios, muitos trabalhadores com direito ao abono
acabam não o sacando, por falta de informação.
O salário família tem sido pago para auxílio no sustento de filhos com até 14
anos aos trabalhadores que recebem até R$ 862,60 por mês. O valor atual do
benefício é de R$ 29,43 por filho.
Segundo Paes de Barros, há necessidade de se criar um sistema de proteção
social maior para essa nova classe média. “(São) coisas que já temos e podemos
reorganizar. Não é inventar muito.”
Uma "Argentina" na nova classe média
Paes de Barros contou que vários países da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) possuem esse modelo de “imposto negativo” para
os trabalhadores de menor renda. “São maneiras de aumentar o incentivo do
trabalhador que não onera folha de pagamento e não reduz demanda do trabalho.”
O governo quer, na verdade, evitar que a nova classe média, ou a classe C, que
conseguiu conquistar renda per capita acima de R$ 1 mil nos últimos anos, tenha
algum retrocesso diante da crise internacional.
Ontem, em discurso no Palácio do Planalto, a presidenta Dilma Rousseff afirmou
que é meta do governo preservar os ganhos recentes da classe média:
- Nós elevamos à classe média 39,5 milhões de pessoas. Considerando que a
população argentina agora, em julho, é em torno de 40 a 41 milhões, nós
elevamos à classe média uma “Argentina”. E é esse mercado que nós queremos
preservar. Preservar para quem? Para nós.
Porém, como a discussão sobre o novo abono para os trabalhadores passa por
ministérios do Trabalho (responsável pelo PIS-Pasep) e da Previdência Social
(que faz a gestão do salário-família), além da Fazenda, o tema ainda pode passar
um longo tempo em maturação na Esplanada dos Ministérios. Até hoje, apenas uma
reunião sobre o assunto ocorreu.
Governo discute pagar bolsa para nova classe média
Governo discute pagar bolsa para nova classe média
