As posições começam a se inverter. Se no passado era o
trabalhador que corria atrás das empresas para conseguir um bom emprego, hoje
são as empresas que fazem qualquer negócio para contratar ou manter um
funcionário. De acordo com pesquisa feita pela Fundação Dom Cabral com 130
companhias, responsáveis por 22% do Produto Interno Bruto (PIB), 92% das
empresas estão com dificuldade para contratar profissionais. As informações são do Jornal O Estado de São
Paulo.
Nesse cenário, vale tudo para preencher uma vaga, desde
importar mão de obra de países vizinhos e fazer anúncios de emprego durante a
missa até designar profissionais para promover a imagem do grupo entre
candidatos. Foi-se o tempo também que para encontrar um bom emprego era preciso
ter pós-graduação, mestrado e doutorado, além de experiência na área. Hoje
muitas companhias já abrem mão dessas exigências.
Dados da pesquisa da Dom Cabral mostram que 54% das
companhias reduziram os requisitos na contratação de pessoal para a área
técnica e operacional. Nos cargos estratégicos, 28% das empresas também diminuíram
as exigências, como pós-graduação, fluência em idiomas e experiência. A solução
tem sido contratar o profissional sem experiência, treiná-lo e capacitá-lo com
cursos moldados à necessidade da companhia.
"O poder mudou de lado", resume o professor da
Fundação Dom Cabral, Paulo Resende, responsável pela pesquisa. Na avaliação
dele, hoje quem está dando as cartas no mercado são os trabalhadores, e não
mais as empresas. "A situação é resultado de uma série de armadilhas
criadas pela própria sociedade. Primeiro desvalorizou-se a mão de obra técnica.
Depois inundamos o mercado com profissionais diplomados e baixa
qualidade."
Para o professor, o Brasil precisa acelerar a criação de uma
nova política de emprego para não atrapalhar o ciclo de investimentos que se
intensificará com a realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos
de 2016. Apenas as empresas pesquisadas pela Dom Cabral afirmaram que vão
demandar nos próximos seis anos 28 mil pessoas na área operacional, 21 mil
engenheiros e 10 mil técnicos.
Mesmo reduzindo as exigências, algumas companhias demoram
até seis meses para encontrar um profissional. "A concorrência está muito
grande. Enquanto você prepara a contratação, o candidato já conseguiu outra
proposta e temos de começar tudo de novo", diz a gerente de Recursos
Humanos da Masb Desenvolvimento Imobiliário, Mariangela Tolentino, que tem 250
vagas em aberto.
Embora atinja todos os níveis, o problema é mais delicado em
cargos técnicos e operacionais. Falta de tudo, de engenheiro a pedreiro. "
Temos de investir em novas tecnologias para reduzir a dependência da mão de
obra", diz o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do
Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Sergio Watanabe.