Deixar
a cama cedo é um trabalho duro e agora a ciência sabe o culpado: um gene
apelidado de 'vinte e quatro'. Em experimentos com moscas, pesquisadores da
Faculdade Weinberg de Artes e Ciências, dos Estados Unidos, verificaram que
quando esse gene era removido, as drosófilas tinham seus relógios biológicos
alterados. Segundo os cientistas, a descoberta se aplica também a humanos,
podendo ser relacionada à dificuldade de acordar. As conclusões do estudo foram
publicadas na edição desta quinta-feira da revista Nature.
O
código genético das drosófilas já havia sido transcrito em 2000, mais até hoje
ninguém conhecia a função de um gene chamado CG4857, nome científico do 'vinte
e quatro'. Para descobrir essa informação, a equipe do neurobiólogo Ravi Allada
testou 4.000 moscas, cada uma com um único gene superexpresso, ou seja,
contendo uma variedade que se manifesta
com mais força que o padrão. Dessas moscas, aquela que tinha uma mutação mais
potente do 'vinte e quatro' apresentou um ciclo diário de 26, em vez de 24
horas. Isso levantou a suspeita de que o gene seria o responsável por acertar
os ponteiros de nosso relógio biológico.
Entender
o seu funcionamento foi um passo além. Algumas das moscas tiveram o 'vinte e
quatro' removido e o efeito obtido foi surpreendente: elas passaram a dormir e
acordar em horários alternados, sem obedecer a um ciclo regular. "As
moscas que não tinham o 'vinte e quatro' não ficaram mais ativas logo antes do
nascer do sol. O equivalente humano a isso seriam aquelas pessoas que têm
problema para levantar da cama pela manhã", conta Allada. Quando
observaram mais de perto o funcionamento do 'vinte e quatro' os pesquisadores
entenderam que ele acionava a produção de uma proteína chamada PER e que esta,
por sua vez, regulava o relógio biológico dos insetos.
Humanos
– "Existem vários genes que coordenam o sono. O ‘vinte e quatro’ atua
especificamente nos dizendo a que horas ir deitar, provocando cansaço, e avisa
nosso sistema para estar preparado, ficando mais alerta quando o sol está
nascendo e é hora de acordar. Mas não influencia, por exemplo, na definição de
quantas horas temos que dormir, função que corresponde a outros grupos
genéticos", explica o neurobiólogo. Como os genes do sono já descobertos
até agora em drosófilas e humanos funcionam de maneira espantosamente similar,
Allada conclui que o mesmo raciocínio deva servir também para o 'vinte e
quatro'. “Nós não identificamos ainda seu respectivo humano, mas isso é uma
questão de tempo”, opina.
A teoria de Allada é que existam cerca de duas dúzias de variedades do gene que possam alterar o ciclo diário de uma drosófila de 19 a 26 horas. Nos humanos, ele acredita que o número de mutações seja ainda maior. "Há pessoas com os mais diversos distúrbios do sono, aqueles que acordam cedo demais e outros que perdem o emprego por não conseguirem se levantar na hora certa. Estes últimos sofrem com a alcunha de preguiçosos, quando tudo que têm é uma má herança genética", conta ele. "Nosso objetivo é entender como esses genes atuam em nosso ciclo diário e como fatores como o relógio biológico interagem com estímulos luminosos, por exemplo. Há ainda muitas questões que queremos responder."