A especulação com os preços dos
alimentos é uma preocupação para o governo brasileiro. Recentemente, o avanço
das cotações agrícolas voltou a chamar a atenção e reacendeu o debate sobre o
efeito das apostas nos mercados futuros. Com informações do Jornal O Estado de
São Paulo.
"É preciso olhar de perto para a
transparência dos mercados. Temos a preocupação de garantir a sustentabilidade
para os produtores", afirmou o diplomata Marcos Pinta Gama, responsável
pela missão brasileira de commodities em Londres.
Ele não acredita que o mundo está
necessariamente diante de uma crise alimentar como a registrada entre 2007 e
2008, quando as cotações explodiram diante da demanda aquecida antes da crise
global.
Mas avalia que é preciso acompanhar
com atenção o aumento dos preços e questões relacionadas ao aquecimento global,
acesso à água e crescimento dos emergentes, que geram impactos sobre a produção
agrícola. "A especulação e a desregulamentação dos mercados são também
fatores que incidem sobre esse quadro geral."
Um caso que gerou alerta foi a
disparada do preço cacau em julho, quando a tonelada atingiu 2.732 libras em
Londres, a maior cotação desde 1977. O fundo de hedge Armajaro Holdings
simplesmente comprou quase todo o cacau disponível no mercado europeu.
A movimentação gerou protesto dos
produtores e acusações de falta de transparência dos negócios. Acredita-se que
as regras menos restritas da praça londrina, diferentes das normas de Nova
York, possam ter criado o ambiente propício para a especulação, algo que ainda
está sendo analisado.
"Os países produtores são
vítimas dessas valorizações, que depois vêm acompanhadas de fortes quedas na
hora da realização dos lucros", disse o diplomata brasileiro.
As movimentações em torno do trigo
também geram tensão. A quebra da safra na Rússia, que suspendeu as exportações
em meio a temperaturas elevadas, fez a commodity disparar recentemente.
O resultado é que alguns países já
protagonizam protestos contra a alta dos alimentos, como Moçambique e Índia. O
país asiático, inclusive, voltou a subir os juros nesta semana para conter a
inflação dos alimentos.