Estudo da USP relaciona consumo de adoçantes artificiais ao declínio cognitivo acelerado
USP aponta que adoçantes artificiais podem acelerar declínio cognitivo em adultos

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e publicado na última quarta-feira (3), na revista científica Neurology, levantou um alerta sobre os efeitos do consumo frequente de adoçantes artificiais. A pesquisa identificou uma associação significativa entre a ingestão dessas substâncias e o declínio cognitivo acelerado em adultos brasileiros.
O estudo em detalhes
A investigação analisou dados de 12.772 participantes do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), acompanhados por cerca de oito anos, com idade média de 52 anos. Os voluntários foram submetidos a avaliações periódicas de memória, raciocínio e fluência verbal, enquanto os hábitos alimentares foram monitorados por questionários.
Foram examinados diversos tipos de adoçantes, como aspartame, sacarina, acessulfame-K, eritritol, xilitol e sorbitol. Todos, com exceção da tagatose, mostraram associação com desempenho cognitivo inferior ao longo do tempo.
Principais resultados
Os participantes que consumiam mais adoçantes apresentaram um declínio cognitivo 62% mais rápido, equivalente a cerca de 1,6 ano de envelhecimento cerebral adicional. Já o grupo intermediário registrou um declínio 35% mais rápido, equivalente a 1,3 ano de envelhecimento.
Na fluência verbal, os resultados chamaram ainda mais atenção: o declínio ocorreu entre 110% e 173% mais rapidamente. Em relação à memória, a queda foi de aproximadamente 32% mais rápida.
Os efeitos foram mais acentuados em indivíduos com menos de 60 anos e em pessoas com diabetes, que tendem a consumir mais adoçantes em substituição ao açúcar.
Possíveis explicações
Entre as hipóteses levantadas pelos cientistas estão a neurotoxicidade de certos compostos, a neuroinflamação e alterações na microbiota intestinal, fatores que poderiam comprometer a barreira hematoencefálica e acelerar o envelhecimento cerebral.
Embora os resultados sejam robustos, o estudo tem caráter observacional. Isso significa que ele identifica associações estatísticas, mas não comprova de forma definitiva que os adoçantes causam o declínio cognitivo. Além disso, houve limitações, como o autorrelato do consumo alimentar e a ausência de adoçantes populares hoje, como a sucralose e a stévia, que ainda não estavam amplamente disponíveis quando os dados começaram a ser coletados, em 2008.
Impacto e próximos passos
A pesquisa reforça a necessidade de cautela no consumo de adoçantes artificiais, sobretudo entre pessoas mais jovens e grupos de risco. Para os cientistas, o próximo passo deve incluir ensaios clínicos controlados e estudos com neuroimagem, capazes de esclarecer os mecanismos biológicos envolvidos e confirmar se os adoçantes podem de fato acelerar doenças como demência e Alzheimer.