Quase Natal: entenda por que sentimos o tempo passar mais rápido

Panetones
nas prateleiras dos supermercados, decoração natalina nos shoppings e
pinheirinhos à venda não deixam dúvida: o Natal está chegando. De novo. E, com
ele, aquele comentário tão tradicional quanto o especial do Roberto Carlos na
TV: “Como esse ano passou rápido!”. Dizemos e ouvimos isso ano após ano,
principalmente quando o final do segundo semestre dá seus primeiros sinais. O
tempo parece estar com pressa. Está mesmo?
A
percepção de que os dias passam de forma mais acelerada acontece porque nós
estamos vivendo mais acelerados. É o que diz Luiz Menna-Barreto, professor da
área de cronobiologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP. “A
sensação de que a cada ano o tempo parece passar mais rapidamente está
associada à crescente diversidade de demandas às quais estamos submetidos,
quase todas exigindo respostas cada vez mais rápidas”, afirma.
Contornar
a pressa moderna e fazer do tempo um aliado exige planejamento, afirma o
especialista em produtividade e administração do tempo Christian Barbosa, da
Triad Consulting. “A metade das pessoas não acompanha o ano passar, e a ficha
cai quando o próximo chega. Elas têm a sensação de que a vida está correndo,
mas não conseguem aproveitá-la.”
A
velocidade do passar do tempo, porém, varia de pessoa para pessoa e de acordo
com a experiência vivida em cada momento. Ao responder uma questão sobre o que
era a teoria da relatividade, conta Menna-Barreto, Einstein comparou: uma hora
ao lado da namorada parece passar em cinco minutos; já 15 minutos na fila do
banco parecem demorar uma hora. “Isso significa que a nossa percepção do tempo
está associada ao que estamos fazendo, ao quanto isso nos motiva e a quão bem
ou mal-sucedidos somos.”
Os fatores que fazem nossa percepção de tempo estar mais ou menos acelerada se misturam. “A densidade de informação, a atenção que damos ao tempo e o grau de expectativa sobre a experiência vivida alteram essa sensação”, aponta José Lino Oliveira Bueno, professor de psicobiologia da USP.
O
estado emocional tem grande influência na percepção do tempo por cada um. Em
uma de suas experiências, Bueno expôs dois grupos de leigos à música “Quadros
de uma Exposição”, composição erudita de Modest Mussorgsky. Uma parte a ouviu
após receber meras informações técnicas sobre a obra. Outra pôde ver imagens do
autor durante a execução da música e soube que ela havia sido composta para um
amigo morto havia pouco tempo. O segundo grupo, que se envolveu com o drama do
compositor, achou que a música durou mais.
Fazer planos para um ano que está prestes a se iniciar é algo comum. Afinal, é quando as esperanças se renovam e a mudança de um número no calendário oferece a chance de sonhar. De acordo com Christian Barbosa, contudo, os sonhos permanecem, em geral, na esfera do desejo, “O ‘vírus’ do Ano-Novo chega por volta de 10 de dezembro e permanece por um mês. No Carnaval, nem lembramos que esse vírus existiu”.
A dica de Barbosa para não sentirmos que o tempo está voando é incluir novas experiências no cotidiano, como matricular-se em algum curso ou selecionar uma nova rota de caminho para o trabalho. Afinal, os segundos passam, um após o outro, sempre com a mesma duração. É o nível de envolvimento do cérebro com o momento presente que pode fazer o tempo parar ou correr. Refletir sobre a ação que está sendo realizada faz com que se tenha a sensação de ganhar essa queda de braço com o tempo. Então, aproveite: faltam menos de dois meses para o Natal.