Gastar mais do que devia pode ser sinal de "overspending"

S.M.R, 29 anos, tinha uma TV que funcionava. Um dia, ele apertou o botão e o aparelho não ligou. O que fez? Comprou na hora uma de LCD gigante e deu a antiga para a empregada que apenas mandou trocar uma pecinha. F.L., 35 anos, foi até o shopping comprar um casaco quente e preto para sair à noite. Chegou à loja e levou um verde-limão e um azul e rosa. O preço de cada um? Quatrocentos reais! G.I.D., 41 anos, cismou que deveria ter um patinete importado - e caríssimo - para ir trabalhar. Os amigos ainda tentaram controlar, mas não deu. Quantas vezes ela usou o patinete? Nenhuma.
Então, a pergunta é: o que os três têm em comum? Resposta: são devedores anônimos. Devedores Anônimos são também um grupo de apoio que se reúne semanalmente em vários lugares para tratar pessoas que, como os exemplos acima, têm o vício de gastar. Aqui no Brasil esse problema é conhecido por oneomania e, nos Estados Unidos, "overspending". Mas por que Devedores Anônimos e não Gastadores Anônimos? Porque a pessoa acaba estragando a sua saúde financeira contraindo dívidas que não param de crescer.
Segundo o neuropsicólogo Daniel Fuentes, coordenador de ensino e pesquisa do Ambulatório do Jogo Patológico e Outros Transtornos do Impulso, os oneomaníacos têm o consumo como vício assim como um alcoólatra que necessita da bebida. Enquanto está comprando, a pessoa sente alívio e prazer dos sintomas, mas, passado um tempo, voltam rapidamente, principalmente o excesso de ansiedade. Assim, o efeito do ato de comprar é semelhante ao de tomar uma droga.
Márcia Atik, psicóloga clínica com especialização em transtornos alimentares e doenças psicossomáticas, revela que o estímulo externo e a publicidade fazem enxergar como urgentes necessidades nem tão urgentes assim. “Mas é claro que isso é sempre potencializado em pessoas com dificuldades em perceber o seu real desejo. A pessoa compra para se afirmar e se entulha de objetos que muitas vezes não fazem sentido. Ela compra para se satisfazer, porém não se satisfazendo ela compra mais, e a frustração se instala formando uma cadeia difícil de romper”, completa. Para a psicóloga, uma das maneiras de tratar uma pessoa compulsiva por gastar é fazer com que ela aprenda a identificar o sentido daquela aquisição e não a aquisição em si.
Como identificar
“Consideramos o comprador compulsivo como algo patológico quando o comportamento da pessoa causa sofrimento emocional e proporciona sérias consequências interpessoais, ocupacionais, familiares e financeiras”, afirma Dorit Wallach Verea, psicóloga e especialista em dependência química pelo Instituto Sedes Sapientiae.
Observa-se que de 90% a 95% dos compradores compulsivos são mulheres que podem apresentar também problemas com excesso de comida e cleptomania, ou seja, fazem pequenos furtos. "A melhor atitude, nestes casos, é procurar ajuda psicoterapêutica o mais rápido possível a fim de prevenir consequências ainda piores e a cristalização do comportamento patológico”, diz Verea.
Você é um?
Aproveite e responda as perguntas sugeridas pelo Serasa. Se você responder sim para mais de uma questão, é hora de procurar ajuda.
· Não resiste ao impulso de comprar?
· Gasta mais que o planejado e se prejudica financeiramente?
· Impede ou prejudica seus planos de vida e das pessoas à sua volta?
· Pede dinheiro emprestado para os outros e até aplica golpes para poder saldar a dívida?
· Precisa efetuar a compra de qualquer maneira, independentemente do produto?
· Percebe que está comprando coisas que não usa ou usa muito pouco?
· Assume dívidas acima de cinco vezes maior que o valor da sua renda mensal?
· Estas manifestações ocorrem em conjunto com ansiedade e/ou depressão?
Quem pode ajudar:
Devedores Anônimos (gratuito) - www.devedoresanonimos-sp.com.br
Blog "Hoje eu não comprei" - www.hojeeunaocomprei.com.br