O bispo dom Paulo Mendes Peixoto, de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, decidiu não punir por enquanto o padre Aparecido Donizeti Bianchi. Bianchi é acusado de atropelar dois motociclistas e fugir sem prestar socorro na última segunda-feira. O padre continuará realizando seu trabalho normalmente na Catedral São José, a Igreja Matriz da cidade.
"Lamento a existência de vítimas e fiquei bastante triste, mas tenho de acreditar na palavra dele (Bianchi) até que se prove o contrário. Se não for verdade, decidiremos o que fazer", disse Peixoto, para quem o acidente poderia ter acontecido com qualquer cidadão. "Até comigo", disse. Para o bispo, "se no final do inquérito, ele for considerado culpado, a igreja poderá puni-lo".
Foi a terceira ocorrência de infração de trânsito e bebida alcoólica envolvendo o padre. Bianchi já havia sido condenado por embriaguez ao volante há dois anos e seis meses. Em dezembro de 2006, ele desacatou policiais que o pararam na contramão quando chegava de madrugada à Catedral. Discutiu e debochou dos PMs, rebolando e fazendo gestos ao som da música do grupo É o Tchan que saía do seu carro. A pena foi transformada em multa de R$ 500,00. "Na ocasião eu disse a ele: Bianchi, você não pode beber", contou o bispo.
No entanto, em 3 de janeiro deste ano, o padre voltou a infringir as regras de trânsito ao avançar o sinal vermelho num cruzamento no centro da cidade. Foi parado e o bafômetro constatou índice acima do limite permitido.
No acidente de segunda-feira, o padre também estaria embriagado e deve ser novamente indiciado por embriaguez, embora alegue que não estava dirigindo o veículo (estava acompanhado por dois jovens), apesar de testemunhas afirmarem o contrário. Segundo André de Jesus, uma das vítimas do atropelamento, o padre mal conseguiu descer do carro ao ser interceptado por outros motociclistas que o perseguiram após o acidente. Seis latas de cerveja, que estariam no carro, foram apreendidas pela polícia. Na delegacia, Bianchi se recusou a fazer o exame de sangue de dosagem alcoólica, mas um exame clínico foi feito por um médico, cujo resultado só sai em 20 dias.
A decisão do bispo de não punir Bianchi veio antecedida de um encontro com o padre e o Conselho de Consultores, formado por outros nove padres que se reúnem para deliberar sobre assuntos envolvendo sacerdotes. Tanto o bispo quanto o Conselho aceitaram as explicações de Bianchi. "Ele alegou que não estava dirigindo o veículo no momento do acidente e que não consumiu bebida alcoólica", explicou Peixoto. Segundo o assessor jurídico do bispado, Flávio Thomé, o padre disse que as latas de cerveja apreendidas não estavam em seu carro, um Golf, e que estaria proibido de consumir bebidas alcoólicas por recomendação médica. De acordo com Thomé, o padre estava a trabalho: voltava de uma benção que teria ido dar em um restaurante do bairro Jardim Urano.
Thomé também disse que o bispado entrou em contato com as vítimas e vai pagar todos os danos materiais e físicos. Jesus não ficou ferido, mas seu colega, Devair Ribeiro, deve passar por cirurgia ainda hoje para correção de fraturas que teve nas pernas.
Sem punição, padre que atropelou dois rezará missa no sábado
