Eleição no Japão pode mudar relação com brasileiros, diz especialista

Eleição no Japão pode mudar relação com brasileiros, diz especialista

Com fortes perspectivas de acabar com quase 54 anos ininterruptos do conservador Partido Liberal Democrático no poder, as eleições no Japão deste domingo (30) também podem trazer mudanças para a relação com a comunidade brasileira que vive no país, na opinião do advogado e professor de direito da USP Masato Ninomiya. As cabines de votação abriram, no horário de Brasília, às 19h do sábado.

Este governo que deve deixar o Parlamento é muito simpático ao Brasil. Assim que começou a crise, eles elaboraram uma série de medidas para ajudar os brasileiros que estão lá. O único país do mundo que fez isso. O Taro Aso [atual primeiro-ministro] morou no Brasil por um ano em 1983”, lembra o professor.

Além do primeiro-ministro, outros membros do atual gabinete, incluindo o chefe da Casa Civil, também tem ligações com o Brasil, “coisa muito rara no Japão”, segundo Ninomiya, que é doutor em direito internacional pela Universidade de Tóquio e presidente do Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador no Exterior.

Com a mudança de governo, ele diz, é difícil saber como ficará a relação com o Brasil, que tem uma das maiores comunidades estrangeiras no Japão, com cerca de 310 mil imigrantes, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores. “O que nós sabemos é que algumas pessoas do Partido Democrático são amigas do Brasil, estiveram aqui [nas comemorações do] Centenário da Imigração Japonesa”, afirma.

Brasileiros que vivem no Japão ouvidos pelo G1 também se mostraram céticos quanto à possibilidade de que a mudança no cenário político possa beneficiá-los.

Dados do Ministério da Justiça do Japão divulgados na sexta-feira (28) revelam que, desde setembro do ano passado, início da crise financeira internacional, 54.709 brasileiros deixaram o país.

Gafes

Não são apenas os efeitos da crise financeira, mas também o desgaste do tradicional Partido Liberal Democrático que impulsionam o clima de mudança na política japonesa. De acordo com o professor de direito da USP, desgastado nos últimos anos por não conseguir manter a maioria sozinho, o partido viu sua popularidade declinar com a figura de Taro Aso, conhecido por suas gafes.

“A popularidade do primeiro-ministro, lamentavelmente, é muito baixa. Ele é um sujeito meio antipático, fala muita besteira e seu japonês não é dos melhores”, diz Ninomyia. Durante a campanha, o porta-voz do governo teve que dar explicações sobre uma frase infeliz de Aso, que afirmou que "os jovens com pouco dinheiro não deveriam se casar".

Já o líder do Partido Democrático Yukio Hatoyama, favorito a se tornar o primeiro-ministro, é a quarta geração de uma família de políticos, mas resvala na pouca experiência em cargos públicos. Ex-membro do Partido Liberal, onde o irmão ainda milita, rompeu com a sigla em 1993 e fundou, com outros dissidentes, o PD.

Embora tenha usado o tema da mudança como trunfo na campanha, para o professor Masato Ninomyia, é pouco provável que sua possível chegada ao poder signifique um rompimento radical com o atual governo no Japão.

“Os dois têm uma plataforma eleitoral parecida. A não ser que o Partido Comunista ganhe, e isso parece impossível, o Democrático não vai, por exemplo, expulsar os norte-americanos de lá. Tem tratados internacionais que tem que ser cumpridos”, diz.

O professor cita ainda a poderosa burocracia japonesa como entrave a uma transformação significativa. “Diferente do Brasil e dos Estados Unidos, no Japão ainda que mude o Gabinete, não vai mudar a burocracia. No Brasil, se muda o presidente, muda até o chefe da garagem do ministério. Lá, a burocracia é muito bem estruturada.”

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