A divertida cantiga popular “O sapo não lava o pé” faz parte da infância de gerações de brasileiros. Mas será que ela tem alguma ligação com a realidade biológica dos sapos? Em entrevista ao Portal do Butantan, o pesquisador científico Carlos Jared, especialista em anfíbios, revelou o que é mito e o que é verdade sobre os hábitos desses animais tão curiosos.
Sapo, rã e perereca: não são todos iguais
Um dos primeiros esclarecimentos importantes é que sapos, rãs e pererecas são animais diferentes, e não versões masculina e feminina da mesma espécie. Enquanto os sapos têm a pele mais seca e preferem viver em ambientes terrestres, as rãs, tanto machos quanto fêmeas, gostam de áreas aquáticas. Já as pererecas são excelentes escaladoras, graças a discos adesivos nas pontas dos dedos.
Sapos "lavam" o pé?
Apesar da música afirmar que o sapo não lava o pé, a realidade é outra. Sapos, rãs e pererecas não bebem água da forma tradicional, mas precisam absorvê-la pelo corpo para sobreviver. Eles realizam essa hidratação principalmente pela pele da região inguinal, localizada na parte inferior da barriga. Em ambientes urbanos, é comum encontrá-los próximos a fontes de água, como poças e áreas úmidas, para manter a hidratação e garantir o funcionamento adequado do metabolismo.
O sapo mora na lagoa?
Outro trecho da canção diz que o sapo mora na lagoa, mas isso também não é totalmente preciso. Na fase inicial da vida, como girinos, esses animais são aquáticos. No entanto, ao se transformarem em adultos, os sapos tornam-se majoritariamente terrestres, retornando à água apenas no período reprodutivo. Já as rãs, sim, passam a maior parte da vida em ambientes aquáticos, mantendo a pele sempre úmida e utilizando suas fortes patas para nadar e saltar com agilidade.
Sapo tem chulé?
A canção sugere que o sapo tem chulé, mas na prática, a maioria das espécies não exala qualquer odor. Algumas exceções, como o sapo-cururu (gênero Rhinella), liberam um veneno de cheiro forte e desagradável quando se sentem ameaçados. Essa substância funciona como um mecanismo de defesa contra predadores, de forma semelhante ao odor liberado pelos conhecidos "marias fedidas".
Curiosidades que aproximam ciência e folclore
Embora a cantiga "O sapo não lava o pé" não seja cientificamente exata, ela mantém seu valor como parte da cultura popular. A brincadeira e o folclore convivem com a ciência, proporcionando às crianças e adultos momentos de diversão, mas também a oportunidade de aprender mais sobre a fascinante vida dos anfíbios.