O Sisbov serve somente para grandes propriedades?

O Sisbov serve somente para grandes propriedades?

Nesta quarta, dia 04, o Giro do Boi levou ao ar entrevista com a médica veterinária Daniela Bittencourt Burihan, responsável técnica da empresa Igcert-Genesis Certificações, certificadora do Sisbov – Sistema Brasileiro de Identificação Individual de Bovinos e Bubalinos.

O sistema, que foi instalado no Brasil há 18 anos, em 2002, ainda conta com alguns entraves a serem esclarecidos para que o número de propriedades integrantes aumente do atual quadro de 1.400 fazendas. Um deles é que o pequeno produtor é reticente quanto à adesão, conforme explicou Daniela.

“Tem que pensar na gerência total, como uma ferramenta de trabalho. Você vai ter um controle bom se você coloca isso aí em prática na sua propriedade, você vai ter a noção do nascimento do boi, do ganho de peso, você vai ter um manejo melhor melhor aplicado, você vai saber porque o seu boi morreu, se foi realmente picada de cobra, por exemplo, vai ter controle sobre o brinco que está saindo. Então tem que quebrar esses paradigmas, na verdade, que existem em relação ao Sisbov. Não é tão difícil assim de implantar. Muitos produtores pensam que é preciso ter um rebanho grande para ter o Sisbov, mas não é assim. Uma propriedade de poucos animais também pode fazer identificação, ter o seu registro e passar a ser uma propriedade na Lista Trace”, sustentou.

“(Serve para) ter esse gerenciamento, você colocar isso em prática para pequenos produtores também, para esses grupos, cooperativas. (A certificação) pode também ser feita na forma de cooperativa para tornar mais barato, mais em conta”, ilustrou.

A especialista listou quais são os custos que o produtor tem ao longo dos passos para certificar sua propriedade. “Tem o gasto da implementação, de colocar os brincos, mas também existe o gasto do dia da vistoria, da ida do vistoriador até a propriedade […]. Ele vai até a fazenda e faz o acompanhamento, faz a vistoria do local. Isso tem um custo, tem a diária dele e o traslado. […] Mas vale a pena esse investimento, então para o pequeno pecuarista também vale a pena você colocar e identificar seus animais. Isso agrega valor ao seu produto”, justificou.

“O Sisbov, a princípio, é uma ferramenta de controle sanitário. O que acontece, e eu penso e vejo na prática, é que muitos produtores esbarram ao pensar na burocracia. A burocracia, na verdade, existe, mas é simples. São cadastros que o pecuarista tem que preencher, é um cadastro do produtor, é um cadastro da propriedade, ele vai ter que ter um controle bem rigoroso da propriedade. Inclusive muitos proprietários já fazem isso com a sua empresa e o que eles vão fazer é somente tornar isso registrado. Então essa barreira, essa forma de pensamento impede muitos de se tornarem integrantes do Sisbov”, opinou.

“Quando você implementa isso na sua propriedade, você vai ter o controle rigoroso porque todos os animais vão ser identificados. Esse animal vai ter um histórico, não vão ser só mais uma cabeça de boi no seu pasto. Ele vai ser um boi identificado com ganho de peso, você vai saber quando ele nasceu, a origem dele, o final dele, para onde vai, então você vai ter o controle de cada um, não vai ser somente uma cabeça, mas vai ser um animal identificado pelo Ministério da Agricultura”, frisou a veterinária.

Daniela salientou ainda que a rastreabilidade dos animais que originam os alimentos reforça a imagem do produto junto ao consumidor. “Hoje o que mais impera no pensamento do consumidor é com a qualidade do alimento que está consumindo. Isso se está no hortifruti e também na cadeia da carne”, observou.

Para o produtor que tomar a decisão por certificar sua fazenda justo ao sistema, a veterinária explicou o passo a passo. “Tem que procurar uma certificadora, de preferência próxima à propriedade para facilitar as coisas até mesmo em relação a documentação. O segundo passo é procurar fazer, depois que preencher esses documentos, esses cadastros, fazer o pedido de brinco através desta certificadora, brincar e identificar. Junto com esses brincos vão as planilhas de identificação e essas planilhas têm que ser preenchidas e entregues à certificadora. Quando todos os animais estiverem brincados e certificados, então a certificadora vai à propriedade e faz a vistoria. São duas vistorias e, sendo a fazenda aprovada, a certificadora chama um auditor do Ministério da Agricultura para poder fazer uma auditoria na fazenda. Estando tudo certo, essa fazenda passa a fazer parte da Lista Trace”, resumiu.

“Lembrando que a quantidade de animais que tem na propriedade tem que ser exatamente a quantidade de animais declara na unidade do estado (nas agências de defesa agropecuária). Então tem que estar de acordo com eles, tem que estar tudo identificado, com inventário e todos esses animais devem estar identificados no Ministério da Agricultura através destas planilhas de identificação que vêm junto com os brincos”, acrescentou.

“O que eu quero dizer aos produtores é que percam o medo, o receio. Não pensem em burocracia, mas pensem […] que vai agregar valor à sua propriedade e você só tem a ganhar”, sustentou.


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