Folha de São Paulo | Segunda-feira, 26 mar 2018 - 21h00
| Atualizado: Quarta-feira, 10 maio 2023 - 09h15
Continua após os destaques >>
Terra dos melhores uísques do mundo, a Escócia anda muito preocupada
com os excessos do consumo de álcool entre os seus cidadãos.
Apaixonados por seus formidáveis pubs e bares, os escoceses estão entre os
maiores consumidores de bebidas alcoólicas do mundo. Cada adulto no país
toma em média o equivalente a 477 pints de cerveja por ano —ou algo como
271 litros.
Toda essa dedicação etílica pode ajudar a manter o famoso bom humor dos
escoceses, mas também é responsável por vários problemas de saúde e altos
índices de dependência.
Para tentar mudar essa situação, o governo escocês decidiu agir. A partir de
maio, a Escócia será o primeiro país da Europa ocidental a introduzir um
preço mínimo para as bebidas alcoólicas.
Cada unidade de álcool (o equivalente a um copo pequeno de vinho ou
meio pintde cerveja) vai custar ao consumidor pelo menos 50 pence (50
centavos de libra esterlina –cerca de R$ 2,29 por unidade).
Com a medida, o preço das bebidas subirá para os consumidores nos
supermercados e bares. Segundo um estudo do Institutefor Fiscal Studies,
cerca de 70% de todo o álcool vendido em lojas e supermercados no Reino
Unido custa menos de 50 pence por unidade. Em alguns casos, cada unidade
pode custar apenas 18 pence (R$ 0,82). Quase um incentivo direto para o
consumo.
Com os aumentos, uma garrafa de uísque barato, com 28 unidades de álcool
e 700 ml, vai passar a custar pelo menos 14 libras esterlinas (ou R$ 64,14).
A cidra extraforte, muito consumida por bebedores pesados no país, passará
a custar pelo menos 3,75 libras esterlinas (ou R$ 17,18) por litro.
Segundo os estudos do governo escocês, o aumento do preço do álcool vai
limitar bastante o consumo do produto entre as pessoas mais pobres –
que também são, no caso da Escócia, as mais afetadas por casos de
alcoolismo e por problemas de saúde relacionados. Com isso, espera-se uma
diminuição razoável nas vendas no país e uma melhora nos indicadores de
saúde nos próximos anos.
A decisão foi uma alternativa à ideia tradicional de simplesmente aumentar
os impostos sobre o álcool, medida adotada em vários países que tentam
conter o consumo do produto. No caso, o governo escocês nem pode
considerar essa possibilidade, já que aumentos de impostos sobre produtos
são uma prerrogativa apenas do governo central do Reino Unido –e não das
autoridades locais de Escócia, País de Gales ou Irlanda do Norte. Mas o preço mínimo pode ter um efeito até maior do que a taxação pura e
simples sobre o álcool. Um dos motivos é que especialistas dizem que a
indústria de bebidas poderia simplesmente manter os preços de alguns de
seus produtos mais baratos, subsidiando-os para não perder fatia de
mercado. A diferença poderia ser simplesmente repassada para outros
produtos mais caros, consumidos por pessoas mais ricas e menos sensíveis a
variações de preço.
Caso isso acontecesse, não haveria de fato uma diminuição sensível do
consumo de álcool entre a população. O que pode acontecer com a nova
medida.
Coincidência ou não, a indústria de bebidas combateu a ideia do preço
mínimo nas cortes por cinco anos. Até perder, em novembro do ano passado,
numa decisão da Suprema Corte britânica.
Agora, os governos do Reino Unido, do País de Gales e da Irlanda do Norte
também começam a estudar medidas semelhantes. Tudo para tentar fazer
com que os britânicos, finalmente, comecem a beber com mais moderação.