Continua após os destaques >>
A recuperação do mercado de trabalho puxada pelo emprego
informal, sem carteira assinada, não dá segurança para as famílias voltarem a
consumir com força e pode comprometer a retomada.
Para especialistas, a conclusão se ancorano cruzamento de dados. Em 2017,
foram criadas 1,8 milhão de vagas— todas no setor informal. Com carteira,
685 mil vagas foram perdidas.
Também conta a renda média dos sem carteira e de pequenos
empreendedores, metade da renda dos formais, já descontada a inflação.
“A propensão a consumir de um empregado formal, que tem mais segurança
e acesso ao crédito, é maior do que a de um informal”, diz Marcelo Gazzano,
economista da consultoria AC Pastore.
Estudo da consultoria de Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco
Central, busca entender por que projeções de consumo vinham
negligenciando esse efeito.
A sugestão é que, envolvidos pelo cenário de juros mais baixos e melhora,
ainda que incipiente, de salários e crédito, analistas menosprezaram o peso
da carteira de trabalho em decisões de consumo —o que também explicaria a
trajetória surpreendentemente errática do varejo nos últimos meses.
A equipe de Pastore considera revisar a projeção de crescimento para 2018,
ainda em 3%. A expectativa é que fique próxima de 2,5%.
“Não dá para dizer: não haverá recuperação econômica pelo consumo. Ela
virá. Mas menos robusta do que se imaginava em razão da profunda alteração
no mercado de trabalho”, diz Marcelo Gazzano, responsável pelo estudo.
Um bom exercício, diz ele, é olhar para o consumo das famílias e para o
mercado de trabalho num período maior.
O consumo atingiu o pico da série histórica, iniciada em 1996, entre 2011 e
2014. Nesse momento, a proporção de trabalhadores com carteira assinada
na população ocupada também esteve no teto histórico, ao redor de 45%. Em apenas três anos, esse percentual foi para 42%, mas o consumo não teve
o mesmo comportamento, em especial no ano passado. A trajetória positiva
do varejo em 2017 tirou as atenções do mercado de trabalho nessa
correlação.
E a oferta de vagas piorou muito. No fim de 2011, eram 39,9 milhões de
trabalhadores com carteira. No fim de 2017, 38,4 milhões. No mesmo
período, o país saiu do pleno emprego para uma situação em que há 12,3
milhões de desempregados, 26,4 milhões de subempregados e 4,4 milhões
que desistiram de buscar trabalho.
O melhor comportamento do varejo em 2017, avalia-se hoje, pode ter sido
provocado pela liberação de R$ 44 bilhões do FGTS (Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço), pois parte foi para compras.
ALERTA
O sinal de alerta veio com o desempenho pífio do consumo das famílias nos
últimos três meses do ano. Com 65% do PIB (Produto Interno Bruto), o
consumo determina o que ocorre na economia.
Após alta de 1% no segundo e terceiro trimestres de 2017, o consumo quase
não se moveu entre outubro e dezembro. No período, as projeções da AC
Pastore, pareciam muito otimistas e passaram a se descolar dos dados.
A equipe deu, então, um peso maior ao consumo dos formais para explicar
vendas mais modestas e as previsões voltaram a aderir à realidade.
Destaques >>
Leia mais notícias em andravirtual
Curta nossa página no Facebook
Siga no Instagram