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No princípio era a moda de viola, a camisa xadrez, a bota com espora e a fivela. Depois veio o drama, a idealização do amor, a dor-de-cotovelo e as duplas com segunda voz apagada. Agora, a música sertaneja vive uma fase de autoestima elevada, por assim dizer. Cantores solo apostam no rebolado ensaiado e no jeito cafajeste e são os melhores amigos do whey protein, aquele suplemento usado por boa parte dos marombeiros de plantão na musculação. Dessa leva faz parte o cantor mineiro de corpo esculpido Lucas Lucco, dono do hit mais tocado no rádio no primeiro semestre deste ano, a brega Mozão, executada nada menos que 27 713 vezes de janeiro a junho, segundo a empresa especializada Crowley. Aos 23 anos, e apenas dois de carreira, o cantor já acumula números dignos de veterano: faz mais de vinte shows por mês, com cachê na faixa dos 100.000 reais, e na internet contabiliza um séquito de milhões de seguidores, grupo que só faz crescer desde que o cantor estreou no quadro Dança dos Famosos, doDomingão do Faustão, da Globo, em agosto.
“A internet foi onde tudo começou.
Foi lá que divulguei minhas primeiras músicas”, diz Lucco. Foi também lá, no
mundo virtual, que ele foi descoberto pelo empresário Rodrigo Byça, em 2012.
Byça ouviu uma canção postada por Lucco no Facebook e o procurou com a promessa
de levá-lo à fama. Na época, o aspirante a cantor, que já tinha sido office boy
e vendedor de shopping, cursava o quarto semestre de publicidade e propaganda e
trabalhava como modelo e promoter de balada em Patos de Minas, a 400 km de Belo
Horizonte.
A primeira ação do empresário foi pedir que Lucco retirasse a música da rede
social. “Não queria que mais ninguém ouvisse e tentasse contratá-lo”, diz. Em
seguida, convenceu o pai de Lucas, o radialista Paulo Lucco, de que o filho
tinha boas chances de ser uma estrela do sertanejo. “Ele é um artista que canta,
compõe e toca, e tem uma imagem comercial, é um homem bonito. Esse estilo era
muito raro quando o descobri.” O estilo, difícil de definir até hoje, é uma
mistureba de sertanejo, rock, arrocha e até funk. “Meu objetivo sempre foi
fazer a música que as pessoas querem ouvir. Não algo que seja rotulado. Se
acham que é sertanejo, tudo bem. Se é pop, tranquilo. Só quero que gostem do
meu trabalho”, defende Lucco.
Byça e Lucco fizeram as malas e se mudaram para Goiânia, em Goiás, celeiro de
muitos precursores do ritmo. Lá alugaram um apartamento e se aliaram a uma
agência de talentos. Pouco depois, ainda sem ter um CD promocional, mas com a
ajuda do YouTube, ele já fazia uma média de 13 shows por mês. Ainda em 2012,
após um show em Tocantins, Lucco caiu nas graças de Sorocaba, segunda voz da
dupla Fernando & Sorocaba e sócio da agência FS Produções, que passou a
cuidar da carreira do rapaz ao lado de Byça.
Sorocaba deu o empurrão que faltava para Lucco deixar de ser promessa. Em 2013,
ele lançou seu primeiro disco, Nem Te Conto, de forma independente e
gravou o clipe do funknejo (sim, isso existe) Princesinha, parceria do
cantor com o funkeiro Mr. Catra. Logo ele conseguiu um contrato com a gravadora
Sony Music, pela qual lançou, este ano, os CDs Tá Diferente e O Destino.
Hoje, na internet, Lucco soma 9 milhões de curtidas no Facebook, cerca de 1,3
milhão de seguidores no Instagram e mais de 161 milhões de visualizações no
YouTube. Daí para a TV foram poucos, bem poucos passos.
Malhação e fé – A combinação de corpos malhados e discursos que coadunam, ao mesmo tempo, o amor eterno, a fé em Deus e a safadeza, pode parecer um pouco incoerente para quem tem mais neurônios que músculos, mas atinge em cheio o imaginário de muitos, especialmente do mulherio. Durante o show de lançamento do DVD Tá Diferente na casa de shows Wood’s Bar, em São Paulo, em agosto deste ano, que aliás pertence a Sorocaba, a composição do público era no mínimo confusa. Garotas tatuadas com pinta de roqueiras se embrenhavam entre típicas periguetes e outras com estilo mais recatado. Antes de o cantor subir ao palco, a maior parte das moças já era alvo do também mesclado público masculino, com uma grande presença de playboys que provavelmente nunca usaram um chapéu de caubói na vida. A paquera rolava solta, como pregam as letras do cantor.
O show foi um dos mais de vinte que
ele faz por mês. Para lidar com a agenda apertada, recheada ainda de ensaios e
gravações do Domingão do Faustão, Lucco conta com a ajuda de uma equipe de
cerca de quarenta pessoas, que viajam em seu ônibus ou em jatinhos locados, em
situações extremas. “Viajo com o que for mais rápido, mas sempre penso no
bolso”, diz o cantor que, apesar do cachê médio estimado em 100.000 reais por
apresentação, ainda se preocupa com as finanças. “Ele ajuda na administração da
carreira. É um rapaz econômico”, diz o empresário Byça.
Para resistir ao ritmo puxado, Lucco é acompanhado por um nutricionista. Sua
alimentação é dividida em porções que andam com ele em uma mochila térmica. O
rapaz não come doces e bebe cerca de 5 litros de água por dia. Outro
profissional em sua cola é um personal trainer exclusivo, com quem malha todos
os dias. “A musculação é uma válvula de escape. A estrada é cansativa. Gosto de
cuidar do corpo e da saúde, pois sobrevivo disso, uso a minha imagem”, diz o
cantor de 1,87m de altura e 93 quilos.
Além da malhação, outro meio de sobreviver à rotina de shows é a decoração de
seu camarim. Na penteadeira, uma Bíblia com um terço, ao lado de uma imagem de
São Jorge, e porta-retratos com fotos da família compõem o que ele chama de
“pedaço de casa”. “A fé é importante para mim. Há um ano e meio eu era um
universitário. Hoje estou aqui.”
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