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Aos 40 anos, a executiva Erin Egan pode se considerar uma das pessoas mais poderosas da internet. Há três anos, a americana é vice-presidente global de privacidade do Facebook, responsável por dar forma final aos termos de uso da rede social, que hoje abriga 1,28 bilhão de pessoas — metade dos usuários de internet do planeta. Na semana passada, Erin visitou pela primeira vez o Brasil. O objetivo era ouvir sugestões e queixas de integrantes de governos, acadêmicos e políticos sobre a mundialmente delicada questão da proteção de dados privados na internet. Em entrevista a VEJA, realizada no QG da rede social, em São Paulo, ela falou pela primeira vez sobre a mais recente controvérsia que bateu às portas da empresa. Trata-se de um teste realizado pelo Facebook que deliberadamente alterou os conteúdos exibidos na linha do tempo de 689.000 usuários de maneira que um grupo só recebesse postagens consideradas positivas e outro, negativas. O objetivo era medir as reações dos usuários — estes, contudo, não foram avisados sobre a "experiência" a que eram submetidos. O teste ocorreu em 2012, mas só foi revelado há poucas semanas, com a publicação de um artigo a respeito na revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, assinado por profissionais do Facebook e das universidades da Califórnia e de Cornell. Erin comenta as críticas ao artigo, mas não a natureza da "experiência". "A linguagem que utilizamos (no artigo) não foi adequada", diz. Confira a entrevista a seguir.
O experimento que deliberadamente alterou os conteúdos exibidos aos usuários não apresenta um problema ético? Nós fizemos esse estudo para entender o nosso produto. É importante frisar: não houve nenhuma informação pessoal utilizada na pesquisa, apenas dados agregados. A linguagem que utilizamos no artigo publicado não foi adequada. Havia ali algumas palavras fortes (o termo "manipulação" aparece no texto) e isso pode ter dado margem a algumas discussões. Como resultado, porém, estamos revisando os nossos processos internos para a realização de pesquisas acadêmicas.
De que forma a questão da privacidade é levada em conta a cada vez que o Facebook desenvolve um novo recurso? Pensamos sempre no usuário e em como ele será impactado por uma nova funcionalidade. Durante esse processo, trabalhamos em estreita colaboração com outros setores da companhia para analisar todos os pontos relacionados à privacidade. Um comitê de profissionais de diversas áreas, como engenharia, relações institucionais, jurídica e marketing, se reúne semanalmente para rever os serviços já concebidos e os que estão em desenvolvimento. Além disso, fornecemos treinamentos sobre conceitos de privacidade aos funcionários e introduzimos questões relativas à defesa do consumidor para que todos saibam construir produtos que não firam direitos dos usuários.
Há menos de um ano, o Facebook introduziu uma ferramenta que sugere a marcação de amigos em fotos usando a tecnologia de reconhecimento facial. O recurso foi criticado. O que o Facebook quer com esse recurso? Queremos diminuir as tarefas que o usuário executa na rede. Aos poucos, descobrimos que as pessoas queriam receber mais sugestões de tagueamento, inclusive para mostrar sua importância dentro de um círculo social. Aquelas que não estão confortáveis com a tecnologia podem desabilitar a função no campo de "Configurações da conta".
Outra reclamação de usuários é relativa aos anúncios exibidos na Linha do Tempo. Como manter a publicidade em destaque sem prejudicar a experiência do usuário? Há menos de um mês, lançamos o Ads Preference (Preferência de anúncios, em português). Disponível apenas nos Estados Unidos (ele será lançado no Brasil nos próximos meses), o recurso permite que os usuários compreendam por que um determinado conteúdo patrocinado é exibido em sua timeline: esta pessoa pode ter curtido uma publicação similar, por exemplo. Nas peças patrocinadas em destaque, há um ícone no canto superior direito da postagem que permite escolher quais tipos de anúncios podem ser exibidos em sua página. Eu posso, por exemplo, não querer mais ver anúncios sobre produtos esportivos. Todos terão a condição de escolher quais ações serão exibidas.
A rede mantém uma equipe de mais de 200 profissionais dedicados à análise de problemas e tendências. Como vocês lidam com o popular teste A/B, pelo qual são comparados os comportamentos do usuário diante de duas versões de um mesmo recurso? Logo após a ideia ter sido trabalhada entre as equipes internamente, passamos por debates que envolvem convites endereçados a profissionais que não trabalham no Facebook — é o caso de professores, membros da sociedade civil e especialistas em privacidade. Eles testam os produtos e retornam com críticas e sugestões. Isso vale para o ciclo de criação de qualquer ferramenta que o Facebook pretenda lançar.
Facebook, Twitter, Amazon, Apple e Google, entre outros, armazenam uma infinidade de dados pessoais de usuários. Não é hora de discutir como essas informações são processadas, armazenadas e interpretadas? Sim, vale a pena ampliarmos a discussão sobre a importância de um assunto recorrente, o Big Data. Ele pode trazer malefícios, mas também muitos benefícios. Seria possível solucionar alguns problemas do mundo a partir do uso correto dele, por exemplo. A única questão que deve ser analisada é o uso que se faz desses dados.
Como a senhora compartilha seus conteúdos no Facebook? (Risos). Tenho três filhos e amo documentar a história da minha família a partir do Facebook. Em meu perfil, os conteúdos são exibidos apenas aos parentes — e, em algumas oportunidades, compartilho informações que possam ser visualizadas apenas por mim. Trato meu perfil como um diário, um mural de recados e guardo lembranças que só eu quero ver.
Ao abrir os cofres e pagar 19 bilhões de dólares pelo WhatsApp, o Facebook voltou a mais uma questão relativa aos dados dos usuários: qual é a garantia que a rede social não vai unificar a política de privacidade e os termos de uso dos dois serviços? Não podemos comentar o assunto porque a compra ainda não foi concluída.
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