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Há quinze anos, a economia de Três Lagoas (MS) dependia essencialmente da pecuária. Até então, o tamanho do comércio local era suficiente apenas para atender uma pequena cidade do interior. Com mão de obra relativamente mal qualificada, a média salarial era baixa. A cidade não tinha recursos naturais de grande valor e estava distante dos grandes centros. Parecia condenada a continuar dependente do setor primário, como tantas outros municípios do Estado.
Hoje, ao caminhar por suas ruas, a Expedição VEJA encontrou uma cidade que tem nas indústrias o principal motor de sua economia. A fabricante de biscoitos Mabel foi a primeira a chegar, no fim da década de 1990. Depois veio a Metalfrio, que instalou na cidade a maior fábrica de refrigeradores industriais da América Latina, com produção anual de um milhão de unidades. Nos últimos cinco anos, as mudanças se aceleraram ainda mais com a chegada de duas grandes produtoras de celulose: a Fibria e a Eldorado.
Os números revelam a transformação radical na economia do município. Em 2013, a cidade de 105.000 habitantes exportou 1,1 bilhão de dólares. Dez anos antes, haviam sido 7,6 milhões.
A distância dos grandes centros foi
compensada pelo fato de Três Lagoas ter uma posição privilegiada, porque está
situada à beira do Rio Paraná. Isso permite o uso do transporte fluvial, mais
barato do que o rodoviário e o ferroviário. Daqui, também é possível chegar a
cinco Estados diferentes num raio de 280 quilômetros.
Os empreendedores só abriram os olhos para essas vantagens depois que o Estado
e a prefeitura instituíram uma política de benefícios fiscais. As companhias
que se instalam no parque industrial recebem gratuitamente o terreno com
asfalto, luz e água, o que facilita a logística da produção. "As grandes
empresas não vêm para o interior se não tiverem incentivo", diz a prefeita
Márcia Moura (PMDB).
Com o programa de atração de empresas, a cidade viu sua população se elevar
significativamente em um curto período de tempo. A renda per capita média
cresceu 110,26% em vinte anos. Nos próximos meses, serão inaugurados em Três
Lagoas uma faculdade de medicina e um hospital da Universidade Federal do Mato
Grosso do Sul (UFMS).
A geração de riquezas pelas indústrias incrementou o comércio. Desde 2005, uma
norma local incentivou as lojas a funcionarem 24 horas por dia para atender os
empregados dos três turnos das fábricas. A cidade de 110.000 habitantes tem
unidades da lanchonete Bob's, das lojas Americanas e vai receber em breve seu
primeiro shopping center.
Com a criação acelerada de vagas (apenas uma das fábricas de celulose responde
por 30.000 postos diretos e indiretos), o município se aproximou do pleno
emprego. Três Lagoas passou a atrair mão de obra de outras cidades e recebeu
mais de 300 haitianos que hoje trabalham nas indústrias locais.
Um dos imigrantes do Haiti é Chedelin Pierre, de 28 anos, que chegou há um ano
e sete meses. Em duas semanas, antes mesmo de ter o domínio da língua
portuguesa, ele já estava empregado. De lá para cá, o salário dobrou e chegou a
1.600 reais. Ainda é pouco para os planos de Pierre, que quer ser engenheiro,
mas ele não se queixa: "Foi um amigo que me indicou para vir para cá por
causa da oferta de empregos. E não posso dizer que está ruim", afirmou ele
ao site de VEJA. Os treslagoenses também não.
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