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Usar
a engenharia genética para modificar os mosquitos vetores (mosquitos
transgênicos) e reduzir a transmissão de doenças como dengue e malária. Essa é
uma das técnicas apresentadas nesta quarta-feira (25) durante o “XIII
Seminários Avançados em Doenças Tropicais e Controle de Vetores”, promovido
pelo Laboratório de Vetores de Malária do Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia (Inpa/ MCTI).
O
evento ocorre em Manaus até a próxima sexta-feira (29), no Auditório da Ciência
do Instituto. O objetivo é divulgar e discutir novas técnicas aplicadas para
doenças e controle biológico, principalmente malária e dengue, e apresentar
tópicos que envolvem biologia molecular e interação parasita.
Pesquisadores
e agentes públicos participaram da mesa de abertura, como o diretor da Fundação
de Vigilância Sanitária (FVS-AM), Bernardino Albuquerque; o diretor de endemias
da Secretaria de Saúde do Pará, Bernardo Cardoso; a representante da Fundação
Medicina Tropical, Graça Barbosa; o pesquisador da Fiocruz (MG), Paulo Pimenta;
e um dos coordenadores do Seminário, o pesquisador do Inpa na área, Wanderli
Tadei.
“Buscamos
no Seminário colocar pesquisadores e estudantes junto com o pessoal do serviço
de saúde para tentar fazer a interação e para que a maior parte dos dados
possíveis da pesquisa seja transferida para o serviço e de forma correta”,
disse Tadei.
O
Inpa desenvolve uma série de pesquisas para o combate a malária e dengue,
dentre elas a técnica do cal e cloro que evita proliferação dos mosquitos da
dengue em construções e o uso do cravinho da índia para inibir que as larvas de
mosquito da dengue cheguem à fase adulta. O Instituto faz parte da Rede Malária
com pesquisadores de várias instituições brasileiras e estrangeiras que tem o
objetivo de promover estudos para o combate o vetor da doença.
De
acordo com o mapa da dengue apresentado pelo Ministério da Saúde, em 19 de
novembro último, em 2013, foram registrados 573 óbitos por dengue no País. No
Amazonas, já foram notificados aproximadamente 23 mil casos de dengue, sendo
que nove pessoas morreram pela dengue.
Engenharia
genética de mosquitos vetores
Para
o pesquisador associado da Universidade da Califórnia, o brasileiro Osvaldo
Marinotti, apesar de a ciência ter vários mecanismos para controlar mosquitos
vetores, ainda não conseguiu eliminar a transmissão de malária, dengue,
filariose (elefantíase) ou a leishmaniose.
Alternativas
são estudadas com esse fim, como o desenvolvimento de vacinas, novos
inseticidas químicos, inseticidas biológicos, manejo de ambiente de criadouros
e a engenharia genética de mosquitos vetores.
Atualmente,
duas técnicas principais na engenharia genética de vetores são desenvolvidas
não só na Califórnia, mas em vários laboratórios do mundo. “Uma é modificar os
mosquitos para que eles que não consigam transmitir doenças e outra é usar
mosquitos que têm gene letal funcionando como sistema de redução de população”,
disse Marinotti.
Hoje
se tem mosquitos em laboratório que são incapazes de transmitir malária e
outros que são incapazes de transmitir dengue. E as perguntas que os
pesquisadores se fazem são: como podemos usar os mosquitos que temos no
laboratório para repor os mosquitos que estão na natureza ou como poderemos
fazer para que o gene do mosquito que está no laboratório vá para os mosquitos
da natureza.
Para
isso, a Universidade da Califórnia está desenvolvendo um sistema chamado de
transposon sintético, que talvez venha a resolver esse problema. “Os dados são
preliminares, bastante interessantes e indicam que se nos colocarmos um gene de
resistência no mosquito e nós liberarmos esse mosquito na natureza, ele
cruzando com outros mosquitos vai conseguir fazer com que esse gene se
estabeleça nessa população”, explicou Marinotti.
Apesar
dos avanços com esse tipo de pesquisa, ela ainda está restrita aos laboratórios
e na opinião de Marinotti talvez demorar mais tempo para chegar a campo, por
conta das questões legais e de autorizações em virtude das discussões sobre os
possíveis impactos ambientais.
Já
no sistema de redução da população de mosquito vetor, com a inserção de um gene
letal nos mosquitos machos que, liberados em grande quantidade no meio
ambiente, cruzam com as fêmeas selvagens e geram uma cria estéril, já é usada
inclusive em Juazeiro na Bahia. A utilização de Aedes eegypti transgênicos para
combater a dengue foi desenvolvida aqui pela empresa britânica de biotecnologia
Oxitec.
“Com
uma grande quantidade de machos, podemos soltá-los na natureza e eles vão lá e
cruzam com as fêmeas, mas as fêmeas não produzem descendência. Então, temos a
redução de população. E o enfoque é o mesmo do inseticida químico ou do
biológico: reduzir a quantidade de mosquitos”, contou Marinotti.
Além
de Marinotti, também participaram das conferências no primeiro dia do evento o
pesquisador Marcelo Jacobs-Lorena e Sebastian Hakansson. À tarde houve ainda
mesa redonda sobre vetores da malária e do dengue: estrutura populacional. No
dias seguintes, as discussões seguem com mais conferências, mesas redondas,
mini-cursos e aulas práticas. Veja a programação aqui.
BG
Sentinela
Desenvolvido
em Belo Horizonte pela Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz/MG), o projeto de
predição de epidemia da dengue está ajudando a Secretaria Municipal de saúde da
capital mineira a predizer aonde irá acontecer o dengue, a partir do
monitoramento de mosquitos infectados. De acordo com o pesquisador da
Fiocruz-MG, Paulo Pimenta, têm trabalhos que demonstraram que se pode monitorar
a infecção em humanos, conhecendo onde estão os mosquitos infectados.
“Este
trabalho é feito em Minas e estamos iniciando a colaboração de predição de
dengue aqui em Manaus”, contou Pimenta, que há 15 anos tem atividades
colaborativas com o Inpa e mais recentemente com a Fundação de Medicina
Tropical (FMT-AM).
Segundo
Pimenta, diariamente carros distribuem armadilhas em três das nove regionais da
cidade, conhecidas como BG Sentinela. Essas armadilhas capturam os mosquitos,
que depois são identificados (regiões) e levados para o laboratório onde
passarão por um diagnóstico para saber se estão infectados ou não, assim como
acontece com os humanos. “Quando os mosquitos estão infectados, avisamos a
Secretaria Municipal onde ela tem de atuar para ir combater os focos do
mosquito antes que eles infectem os humanos”, disse o pesquisador.
Financiado
pela Fundação Bill Gates no valor de US$ 3 milhões, o projeto tem duração de
quatro anos e encerra em 2014. No próximo ano, o projeto espera montar um
modelo matemático associando os dados de campos com outros dados, como
condições geográficas, populacionais/ demográficas e números de pacientes, para
tentar ter um diagnóstico de onde ocorrerão os casos de dengue.
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