Cerca
de 90% dos médicos, dentistas e fisioterapeutas que atuam no estado consideram
que os planos de saúde interferem na autonomia profissional deles. A avaliação
consta em uma pesquisa divulgada nesta terça-feira, dia 23, por associações das
três categorias. Entre as interferências estão as dificuldades para autorização
de procedimentos de alta complexidade, a não autorização de medidas
terapêuticas e as restrições no tempo de internação dos pacientes.
Foram
entrevistados 5 mil profissionais, distribuídos em pelo menos 22 especialidades
médicas. O estudo foi feito pela Associação Paulista de Medicina (APM), pelo
Conselho Regional de Odontologia de São Paulo e pela Federação Nacional de
Associações de Prestadores de Serviço de Fisioterapia.
A
pesquisa expõe grande insatisfação dos prestadores de serviços das três áreas.
Entre os médicos, apenas 6% avaliam a atuação das operadoras de saúde como
ótima (2%) e boa (4%), enquanto 48% classificam o serviço como regular e 46%
como ruim/péssimo. Nenhum dos fisioterapeutas considerou o serviço das
operadoras como ótimo ou bom. A classificação regular foi apontada por 38% dos
entrevistados e a ruim/péssima por 62%.
A
avaliação é ainda mais negativa entre dentistas. Quase 70% deles classificaram
a atuação das operadoras de plano de saúde como ruim/péssima e 28% avaliaram
como regular. Apenas 1% marcou a opção ótima e 2%, boa. "Traçamos um
cenário do que ocorre hoje na saúde suplementar, deixando em evidência um
quadro de muitas dificuldades. Vimos os conflitos existentes entre prestadores
de serviço e operadoras e os prejuízos que eles causam especialmente para o
usuário", avaliou Florisval Meinão, presidente da APM.
O
estudo aponta que mais de 80% desses profissionais precisaram aumentar a carga
de trabalho para suprir a defasagem dos honorários pagos pelos planos de saúde.
"Definimos este ano um valor de R$ 60 para as consultas e conseguimos que
algumas [operadoras] cumprissem, mas outras ainda pagam valores abaixo, algo
entre R$ 30 e R$ 50", explicou João Ladislau Rosa, coordenador do Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). Diante desse quadro, o
estudo mostra também que 85% desses profissionais já se descredenciaram de
planos por essa razão.
A
baixa remuneração também tem desencorajado os médicos a adotarem procedimentos
que impõem mais risco profissional. "O que se paga hoje por uma cirurgia é
um valor tão irrisório que os médicos desistiram de fazer cirurgias, porque é
uma atividade de grande complexidade e ele recebe quase a mesma coisa para
ficar no consultório", explicou Meinão. De acordo com o presidente da APM,
para um procedimento de retirada de amígdalas paga-se R$ 75, enquanto a
consulta custa R$ 60, exemplificou.
Também
é alto o percentual de médicos (86%), fisioterapeutas (91%) e dentistas (80%)
que relataram casos em que os pacientes tiveram que recorrer ao Sistema Único
de Saúde (SUS) diante dos obstáculos impostos pelos planos de saúde. Essas
dificuldades para conseguir que a operadora autorize medidas terapêuticas têm
feito crescer o número daqueles que recorrem à Justiça. "Entre os médicos,
79% tiveram pacientes que buscaram o tribunal", destacou Meinão, conforme
dados da pesquisa.
Na
próxima quinta-feira (25), os médicos de São Paulo vão paralisar por um dia os
atendimentos dos planos de saúde. A atividade faz parte do Dia Nacional de
Alerta aos Planos de Saúde que ocorre em todo o país. "Cada estado define
de que forma vai ser a mobilização. Nós vamos fazer um ato na Avenida
Paulista", disse Meinão. Ele destacou que serão suspensas as consultas
agendadas e a orientação aos médicos é que os atendimentos sejam remarcados.
Entre
as reivindicações que serão destacadas pelos médicos na manifestação, estão o
reajuste dos honorários, regularização dos contratos para inclusão de cláusulas
explícitas de reajustes e fim da interferência dos planos de saúde na autonomia
dos médicos no exercício da profissão. "Também defendemos a aprovação de
leis que tratem dessa questão, pois acreditamos que teremos mais segurança jurídica
se houve uma legislação pertinente", explicou.