As
transcrições de gravações feitas pela polícia do Paraná na UTI do Hospital
Evangélico, em Curitiba (PR), que resultaram na prisão da médica Virgínia
Soares de Souza , no dia 19, sob a acusação de homicídio qualificado, mostram
um diálogo em que ela afirma que está com "a cabeça tranquila para
assassinar". Ontem à noite ela foi transferida para a Penitenciária
Feminina de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba.
Segundo
o inquérito, às 15h29 de 24 de janeiro, Virgínia conversa com um médico chamado
Rodolfo e depois de avaliar as condições clínicas fala: "Nós estamos com a
cabeça bem tranquila pra assassinar, pra tudo, né?". O advogado de defesa
de Virgínia, Elias Assad, desqualifica o teor das gravações e alega que elas
"estão fora de contexto e algumas estão sendo mal interpretadas".
"Com
certeza foi em um momento de descompressão, quando ela, envolvida no salvamento
de outra pessoas, muitas vezes ouve desabafos e agressões verbais de familiares
e depois fala dessa forma com seus colegas de trabalho", diz o advogado.
Outra
frase atribuída a Virgínia, supostamente gravada também no dia 24, é
"quero desentulhar essa UTI que tá me dando coceira", seguida de uma
risada. Ela teria sido falada após o comentário de um médico, de nome Anderson
- o anestesista Anderson de Freitas foi preso no final de semana, mas não há
confirmação de que tenha sido ele o autor da frase.
Na
quarta-feira (27), em nota, a polícia negou que as gravações tenham sido feitas
por agente infiltrado na UTI. "Havia essa possibilidade, mas optou-se por
fazer apenas a interceptação telefônica dos ramais da UTI e nos celulares. Não
houve agente policial."
Habeas
corpus
A
transferência de Virgínia aconteceu no dia em que seu requereu um habeas corpus
ao Tribunal de Justiça do Paraná. Segundo ele, essa transferência é uma
represália à forma como a defesa vem agindo. "O que estão fazendo, não
dando acesso às informações, beira o fascismo. Além disso, Virgínia é uma pessoa
com nível superior e precisaria estar em uma condição especial, conforme a
lei." A polícia não se pronunciou.
A
defesa da médica deve pedir a prisão da delegada do Núcleo de Repressão aos
Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), Paula Brisola, caso ela descumpra uma nova
ordem judicial expedida no final da tarde e não entregue a íntegra do
inquérito.
Os
prontuários dos pacientes Ivo Spitzner, Paulo José da Silva, Pedro Henrique
Nascimento, André Luis Faustino e Luiz Antônio Propst, que morreram entre s 24
e 28 de janeiro e cujas mortes culminaram no pedido de prisão da médica, ainda
estão com a polícia, sem acesso aos advogados.
Em
seu depoimento, o anestesista Edison Anselmo da Silva negou envolvimento com
supostos crimes ocorridos na UTI, assim como a enfermeira Laís da Rosa Groff.
Ela disse que todos os movimentos na UTI eram monitorados. "Qualquer
procedimento, seja por telefone ou por prescrição, é feito por meio de
prescrição médica."
Questionada
sobre se realizou abertura de gotejamento para acelerar medicação de pacientes,
respondeu que não, pois era realizado seguindo prescrição médica. Em sua
defesa, Virgínia negou, durante interrogatório, que tenha provocado
intencionalmente a morte de pacientes.
"A
denúncia ocorreu por mau entendimento dos próprios componentes da equipe não
familiarizados com os procedimentos da UTI", diz o inquérito. Na semana
passada, colegas da médica saíram em sua defesa. As informações são do jornal O
Estado de S. Paulo.