O
médico pneumologista Abdias Baptista de Melo Neto afirmou ao iG que 70 pacientes
estão em estado crítico, o que pode elevar a 300 o número total de vítimas do incêndio que até agora matou 231 pessoas
em uma boate em Santa Maria (RS).
Melo
Neto é um dos voluntários que desde ontem participam do socorro aos
sobreviventes. Entre 7h e 21h30, ele recebeu, em três hospitais, os pacientes
que chegavam nas ambulâncias do Samu.
“Dos
pacientes atendidos, mais de 70% tiveram queimaduras aéreas: nariz, boca,
laringe, traqueia e pulmão. Alguns ficam em observação hospitalar, mas outros
precisaram de ventilação mecânica [respirador]”.
Ele
afirmou que o que mais chama a atenção é que “esse tipo de paciente chega bem,
sem queixas além da irritação da garganta, mas acabam evoluindo mal”.
É
por essa razão que ele fez uma “estimativa” de quantos pacientes podem acabar
morrendo nas próximas horas. “Deve passar de 300 mortos. São cerca de 70
pacientes em estado crítico, potencialmente graves, com risco de óbito, sem
contar quem esta em situação grave, mas em melhora clínica”, afirmou.
O
pneumologista disse que pacientes com esse tipo de problema podem passar até
meses em agonia, mas que o período crítico são as 72 horas depois do ocorrido.
Ele acredita que mais 15 pessoas serão levadas para um centro especializado em
Porto Alegre.
Inferno
Melo
Neto conta que viu “muitas cenas de pessoas que entraram em desespero, em
choque. Perderam filhos únicos, pais, irmãs, todo o tipo de relação familiar
foi desfeita pela tragédia”:
“A
nossa mente foi até o inferno e não conseguiu voltar. É uma cicatriz permanente
porque não há treinamento técnico que prepare alguém para o que a gente viu”,
disse. “As imagens que lembram o holocausto: corpos empilhados, alguns sem
identificação”.
Apesar
da maratona de ontem, o médico já voltou a trabalhar. “Estou desde cedo
trabalhando. Vou aos hospitais para ajustar no tratamento de quem está estável
e para avaliar quem terá a necessidade de ser transferido para Porto Alegre”.