Um
dos sobreviventes do incêndio que matou 232 pessoas na boate Kiss, na cidade de
Santa Maria (RS), o personal training Ezequiel Real, usou sua página do
Facebook para contar em detalhes como se salvou da morte. De acordo com ele,
foi preciso pisotear pessoas desmaiadas e ver pessoas se escondendo dentro de
freezers antes de alcançar a saía e mais tarde voltar para tentar socorrer
sobreviventes.
“Acompanhei
o início do fogo que veio das faíscas do sparkles e se propagou pelo teto nas
esponjas do isolamento acústico”, disse. “Não me apavorei porque não achei que
poderia lidar com a situação, mas vi muita gente entrar em pânico, cair e
desmaiar umas por cima das outras”.
Ele
conta que viu “muita gente em crise” acessando a porta mais próxima, “que era a
do banheiro e se alojaram lá dentro. Vi pessoal que trabalhava se escondendo
até dentro de freezers! Quando vi que não tinha mais jeito de sair pela saída
principal, dei a volta na área Vip e sai pela lateral empurrando e pisando por
cima de muita gente, acredito que não sairia se não fosse pela força que
utilizei para passar pelas pessoas”.
Ele
disse que só ao sair percebeu “que pisava e cruzava por cima de mulheres e
homens desmaiados”. “Não vi alarme soando, só gritos. Não vi luz de saída, só
fumaça. Quando saí, me passou pela cabeça as pessoas que passei por cima e
voltei para retirá-las pois não aguentava escutar berros, ver policias e
bombeiros sem dar conta, porque tinha muita gente empilhada. Quando entrei
tinha que escolher quem salvar”.
Real
conta que não havia saída para a fumaça e, por isso, quem estava envolvido no
salvamento começou “a abrir um buraco na parede, arrancar madeiras, grades, janelas”.
“Ao
abrir o buraco na parede, um bombeiro me convidou para entrar porque sozinho
não conseguiria tirar as pessoas. Entrei e pela primeira vez vi a morte
pessoalmente”.
Ele
afirma que “logo um enfermeiro pediu para sair lá de dentro, pois tinha risco
de desabar. Não acreditei, e ele me mostrou que todos que saiam daí para frente
estavam mortos”.
“No
primeiro momento em que liguei e foquei a luz na área vip, vi muitos corpos,
não sabia mais o que fazer, perdi forças porque vi gente pendurada em grades,
vi pessoas empilhadas uma por cima das outras e não era uma ou duas dezenas,
era muita gente”, disse. “Imagem que nunca apagarei da minha cabeça, não tive
força física para ficar ali e tive que sair derrotado de dentro daquele
buraco”.