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Turistas
que caminham pela Calle Florida, a principal rua comercial de Buenos Aires, são
tentados inúmeras vezes a trocar seus dólares por pesos argentinos, cenário de
uma economia em que a população procura fazer reserva de valor em moeda
estrangeira, pela falta de confiança no câmbio local, e vê nos visitantes uma
das principais fontes para isso. O que mudou no último ano é que o real também
passou a ser desejado no país vizinho, diante de medidas restritivas para a
aquisição da moeda americana.
Embora a cotação oficial não reflita essa
maior procura pelo real, devido ao controle exercido pelo governo sobre a moeda
local, o câmbio informal, chamado de ‘blue market’, se encarrega deste papel.
Nele, o real é encontrado a uma cotação 25% maior do que no mercado formal.
Ontem, R$ 1 equivalia a 2,432 pesos argentinos, mas poderia ser encontrado a
algo superior a 3 pesos no paralelo. Já o dólar, cuja cotação oficial apurada
no Banco Central era de 4,962 pesos argentinos, poderia ser vendido por 6,50 pesos.
A
procura pelo real foi incentivada após medidas restritivas tomadas pelo governo
argentino para aquisição de dólares no país, com receio de fuga das divisas em
um momento em que os estoques estão baixos. “Quando o país tem dificuldade em
manter um volume adequado de reservas, de acordo com a necessidade de
importação, limita a compra de divisas”, aponta o professor de economia
internacional da PUC, Antonio Carlos Alves dos Santos.
Entre
as medidas adotadas, em outubro de 2011, o governo obrigou os argentinos que
queriam comprar outras divisas a pedir autorização prévia à Receita Federal
local. Já em abril de 2012, eles foram proibidos de usar cartões de débito no
exterior para sacar moeda estrangeira de sua conta em pesos. O saque deve ser
feito de uma conta em dólar. “Na medida em que o governo cerceia a aquisição de
dólar, é natural que o argentino procure o real, moeda de um país próximo”, diz
Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora de Câmbio.
Além
disso, o real é a moeda da sétima maior economia do mundo e está relativamente
estável frente ao dólar. “A economia mais desenvolvida perto da Argentina somos
nós, um dos principais parceiros comerciais, então o real, embora não seja
moeda conversível livremente naquele país, acaba sendo usado inclusive informalmente”,
conta Marcos Forgione, diretor de operações da Broker Brasil.
Uma
das formas informais é a aceitação pelo comércio varejista. O brasileiro
Emerson Chiamarelli, de 41 anos, passou cinco dias no mês de dezembro em Buenos
Aires e confessa que foi incentivado diversas vezes, pelos próprios
comerciantes, a pagar com moeda estrangeira. “O valor do dólar era de seis
pesos, enquanto a cotação oficial era de 4,90 pesos”, conta.
O
efeito desta procura maior pelo real no mercado paralelo é pouco sentido na economia
brasileira, mas para os argentinos prejudica a situação já complicada do país.
“Perde-se a referência de valor”, afirma Fabiano Rufato, diretor de câmbio do
Grupo Fitta. “Gera um ambiente instável, os preços internos podem disparar.”
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