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Senhores
de ternos alinhados, passos sempre rápidos e olhos que pulam dos celulares para
os relógios. São típicos homens de negócio, executivos de multinacionais, mas o
discurso pode enganar. “Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo”, desde
quando eles citam Gandhi?
É
cada vez mais comum ouvir executivos falarem de produção verde. Desde a última
década, o ambientalismo tem sido parte do discurso de muitas empresas. Mas a
sustentabilidade deixou de ser apenas uma jogada de marketing, porque ser verde
começou a dar dinheiro. No Brasil, grandes empresas investem milhões em
processos ambientalmente corretos com a certeza de que o retorno virá, e será
rápido.
O
Sistema de Alimentos e Bebidas do Brasil (SABB), joint venture formada
pela Coca-Cola e fabricantes regionais de bebidas sem gás, decidiu apostar no
“rentável e sustentável”. A fábrica Leão, localizada na cidade de Fazenda Rio
Grande (PR) e inaugurada nesse ano, é a primeira do grupo e do país a receber a
certificação do U.S. Green Building Council, organização americana que
incentiva modelos de construção sustentável.
“É
possível ser lucrativo e sustentável”, diz o diretor geral do grupo SABB, Axel
de Meeûs, que em português enrolado se orgulha de sua “fábrica verge”. Nela,
são processados produtos secos da linha Matte Leão. Segundo Clelso Valeski,
diretor de projetos da unidade, a construção custou R$ 30 milhões, cerca de 5 a
8% a mais do que uma fábrica comum, mas em cinco anos o investimento terá sido
pago pela economia nos custos. “Haverá economia de 28% de energia e de 36% de
água, que geram redução de 8 a 10% no nosso custo de produção”, diz
Valeski.
Esse
é o impacto em uma fábrica de produtos secos, em que a utilização de água e
energia é bem menor do que em outras unidades do grupo. Em uma fábrica de
refrigerante, por exemplo, mais água é utilizada no produto final e mais
energia é necessária para produzir as garrafas pets, por isso, o impacto na
redução de custos pode ser ainda maior. “O movimento sustentável é um
negócio”, confirma Sérgio Ferreira, diretor de sustentabilidade da SABB.
“Às
vezes, só a preocupação ambiental não justifica o investimento necessário para
construir uma fábrica dessas. Mas, quando os custos caem, isso é interessante
para a empresa”, diz Ilton Azevedo, diretor de Meio Ambiente da Coca-Cola
Brasil. A Coca-Cola afirma que pretende construir novas fábricas dentro dos
parâmetros LEED e adaptar todas as já existentes para outro tipo de
certificação (EBO&M – em português, operação e manutenção de construções já
existentes).
“Pelo
menos, até a Copa do Mundo, todo o fornecimento de produtos para as
cidades-sede será feito por fábricas certificadas”, diz Mauro Ribeiro, diretor
de relações institucionais da SABB. Até 2014, o grupo espera adaptar mais 14
fábricas e construir uma nova unidade produtora de sucos com a certificação
LEED. A unidade provavelmente será localizada no Nordeste, custará R$ 500
milhões e ficará em uma área de 200 mil m2, dos quais apenas 50 mil m2 serão
construídos.
Segundo
a professora do Núcleo de Estudos e Negócios Sustentáveis, Ariane Reis, “quando
a empresa estende os critérios ambientais e sociais para seus fornecedores, aí
sim está preocupada com sustentabilidade”. “A Coca-Cola é conhecida como a
certificadora do açúcar no Brasil, por manter critérios básicos nas usinas”,
diz. “A diferença é que o mercado de fornecimento deles já está formado, não
precisam pagar mais para obter produtos produzidos de forma sustentável”.
No
rol das multinacionais investindo em produção verde no Brasil também está a
Panasonic, que inaugurou sua primeira fábrica Eco Ideas no país . Localizada em
Extrema, no sul de Minas Gerais, a unidade corresponde a um investimento de R$
200 milhões. Nela, serão produzidos principalmente refrigeradores, micro-ondas
e máquinas de lavar. O consumo de água será 30% menor e a economia de energia
terá redução de 20%
A
fábrica irá reutilizar água da chuva, reciclar materiais descartados e reduzir
a emissão de CO2. “Pretendemos ser a empresa número um em tecnologia verde da
indústria de eletrônicos até 2018”, diz Sergei Epof, gerente de produtos de
linha branca no Brasil.
Além
da economia durante a produção, claro, a sustentabilidade conquista clientes.
Segundo Renata Assis, gerente de marca da Panasonic, 49% dos consumidores
consideram importante haver preocupação ecológica nas empresas e 72% acreditam
que o meio-ambiente é mais importante do que a economia.
As
fábricas verdes começam a se espalhar pelas campanhas publicitárias, em que as
linhas de produção mais eficientes e de menor custo são vendidas também como
prática ambientalista. “Ser o bom moço é o que sobra para o marketing vender de
imagem”, diz Ariene Reis, Professora do Núcleo de Estudos e Negócios
Sustentáveis da ESPM. “As empresas estão preocupadas com lucro, inovação e
desenvolvimento”.
“Empresas
voltadas ao consumidor final estão mais preocupadas com as vendas do que com a
sustentabilidade”, diz a professora. “No Brasil, é raro o consumidor que se
tornar fiel a uma marca porque ela é verde, mas se o preço do produto for o
mesmo, esse vira um aspecto decisivo”. “A sustentabilidade está de mão
dada com o negócio, como toda área ela precisa dar retorno”, diz Ariane.
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