Continua após os destaques >>
Recentemente
conheci uma jovem mulher muito consciente sobre a própria saúde, que insistiu
que o tamanho das bebidas açucaradas não deveria ser algo previsto por lei.
“Incentivar
as pessoas a beber menos dessas bebidas é algo que deve ser feito por meio da
educação”, defendeu ela.
É
uma opinião compartilhada entre muitos. Alguns podem não estar cientes do papel
que essas bebidas têm na crescente epidemia de obesidade e de diabetes do
tipo 2. Poucos sabem do histórico decepcionante de esforços feitos para mudar o
comportamento das pessoas apenas pela educação.
A
mulher em questão estava reagindo a uma regulamentação da cidade de Nova York,
que entra em vigor em março de 2013, limitando o tamanho dessas bebidas a 470
ml em restaurantes, carrinhos de rua, cinemas e eventos esportivos. Lojas de
conveniência, máquinas automáticas e algumas bancas de jornal estão isentas.
Vários
novos estudos ressaltam o potencial de saúde pública gerado pela restrição. Se
tiver sucesso, é provável que a medida seja imitada em outros lugares, pois o
amor da nação por refrigerantes de tamanho gigante está custando às cidades e
aos estados bilhões de dólares com despesas médicas.
Gula
por doces
Todos
nós nascemos com uma preferência natural pelo doce, o que durante a evolução
nos permitiu perceber quando as frutas estavam maduras e prontas para serem
comidas. Mas, como colocou Gary K. Beauchamp, biopsicólogo e diretor do Monell
Chemical Senses Center, um instituto de pesquisas sem fins lucrativos na
Filadélfia, "nós separamos o gosto bom da comida boa". Nossa gula por
doces não está mais trabalhando a nosso favor.
Ninguém
alega que bebidas adoçadas sejam a única razão pela qual os americanos estão
mais gordos e têm desenvolvido altas taxas de diabetes tipo 2. Mas em momento
algum na história nós ingerimos mais adoçantes calóricos do que hoje, e os
refrigerantes são os grandes culpados.
As
bebidas adoçadas, maior fonte de calorias em nossas dietas, respondem por quase
metade do total de açúcar que consumimos e 7% do total de calorias – chegando a
quase 15% em alguns grupos, incluindo garotos na adolescência. Pesquisadores da
Universidade de Wisconsin relataram em 2005 que os alunos em média consomem
anualmente 14 kg de açúcar nas bebidas adoçadas.
A
Coca-Cola costumava vir em garrafas de 230 ml com 97 calorias. Hoje as pessoas
compram latinhas de 350 ml com 145 calorias (o equivalente a 10 colheres de
sopa de açúcar); garrafas de 590 ml com 242 calorias; Big Gulps de 950 ml;
Super Big Gulps de 1,3 l com 533 calorias; e Double Gulps de 1,9 l com 776
calorias. A diferença de preço entre esses tamanhos é mínima.
Essas
calorias são nutricionalmente vazias, ao contrário das encontradas nas frutas,
legumes, carnes, aves, peixes e laticínios, todos fontes de vitaminas e
nutrientes essenciais.
Barbara
J. Rolls, professora de ciência nutricional na Universidade Penn State, mostrou
que falta um "fator de saciedade" nas calorias líquidas. Quando as
pessoas tomam refrigerantes, elas não compensam adequadamente a refeição
comendo menos calorias nas comidas sólidas.
Brian
Wansink, diretor do Food and Brand Lab na Universidade de Cornell, diz que as
bebidas não satisfazem tanto quanto as comidas sólidas por não terem uma
textura e um "movimento de boca", e nós "tendemos a consumi-las
tão rapidamente que nem as percebemos".
Muitos
estudos observacionais têm ligado o consumo de bebidas adoçadas ao aumento de
peso das crianças, e ao aumento de peso e surgimento da diabetes tipo 2 em
adultos. Mas novas pesquisas vão muito além dessas descobertas.
Em
um estudo realizado entre mulheres acompanhadas por quatro anos, as que
consumiram uma ou mais dessas bebidas por dia praticamente dobraram o risco de
desenvolver diabetes tipo 2, comparadas às que beberam menos de uma por mês. E
os autores concluíram que aquelas que consumiram mais bebidas adoçadas também
"aumentaram o consumo de energia" – ou seja, calorias – "das
outras comidas, indicando que essas bebidas podem até mesmo induzir a fome e o
consumo de comidas".
Dois
estudos recentes no Jornal de Medicina de New England observaram os efeitos do
peso em crianças e adolescentes quando bebidas sem açúcar eram substituídas por
aquelas com adoçantes calóricos. Em ambos os casos, limitar o consumo de
calorias líquidas reduziu o aumento de peso nas crianças, comparadas às que
continuaram consumindo as bebidas adoçadas.
O
autor de um dos estudos, realizado na Holanda, comentou: "As crianças nos
EUA consumem em média quase três vezes mais calorias nas bebidas
adoçadas", comparadas às crianças holandesas.
Logo
depois do encerramento de outro estudo, realizado entre adolescentes em algumas
áreas de Boston, os jovens passaram a consumir bebidas menos calóricas, o que
mostra a importância tanto da educação quanto da regulamentação. O autor
sênior, Dr. David S. Ludwig, disse que as descobertas enfatizam a necessidade
de mudanças nas políticas públicas.
"Isso
sugere que se queremos mudanças a longo prazo no peso, teremos que fazer
mudanças permanentes a longo prazo em nosso ambiente para as crianças",
disse ele ao New York Times quando a reportagem foi publicada.
Um
terceiro estudo, publicado com os dois primeiros, descobriu uma ligação
importante entre genética e os efeitos das bebidas adoçadas no peso. Homens e
mulheres com uma predisposição a ganhar peso experimentaram um efeito mais
aparente causado pelas bebidas adoçadas do que as pessoas que não tinham os 32
genes associados ao maior índice de massa corporal.
Melhorando
os hábitos saudáveis
Educação
importa. Mas a história mostra claramente que educação não é o suficiente. Precisa
ser acompanhada de restrições que desencorajem hábitos não saudáveis e de
mudanças ambientais que apoiem os hábitos saudáveis.
Fumar
é um exemplo clássico. Anúncios bem feitos explicando seus perigos – até mesmo
avisos nos maços – não fizeram muito para ajudar pessoas a pararem de fumar e a
impedir que os outros o fizessem. Só depois que fumar foi proibido em ambientes
de trabalho, restaurantes, prédios públicos e nos meios de transporte é que
milhões desistiram. Hoje em dia, cerca de um entre 5 homens americanos fuma. Há
40 anos, a média era de um a cada dois.
Do
mesmo jeito que a indústria do tabaco contestou a ligação entre fumar e ter
câncer durante anos, a Associação Americana de Bebidas diz que não há provas de
que bebidas adoçadas sejam os grandes culpados pela obesidade e pela diabetes.
Mas
porque esperar décadas por uma evidência conclusiva, quando milhões já terão
adoecido ou morrido por causa da obesidade? Não é como se não houvesse
alternativas já existentes para as bebidas adoçadas, incluindo aquelas com
adoçantes não calóricos e águas com ou sem gás, com sabor ou sem.
Se
essas bebidas fossem menos caras e tivessem algum destaque, e mais pontos de
vendas limitassem o tamanho e a disponibilidade de bebidas doces, poderíamos
começar nesse caminho tão bem trilhado durante nossos esforços antitabagismo.
Destaques >>
Leia mais notícias em andravirtual
Curta nossa página no Facebook
Siga no Instagram