Sob
pressão do governo, os maiores bancos de varejo do País reduzem os juros do
cartão de crédito. Nesta segunda-feira, foi a vez do Bradesco, que cortou em
cerca de 50% as taxas das compras parceladas e do rotativo. No início de
setembro, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal anunciaram medidas
semelhantes. Em agosto, o Itaú criou uma nova modalidade de cartão, na qual o
juro máximo caiu à metade.
Apesar
do movimento, as taxas permanecem elevadas se comparadas a outras modalidades
de financiamento e mesmo ao juro básico da economia (Selic). No Bradesco, por
exemplo, o juro máximo do rotativo caiu para 6,9% ao mês, de 14,9% antes. Nas
compras parceladas, o recuo foi de 8,9% para 4,9% ao mês. Em termos anuais, o
rotativo custa, no pior cenário, 122%. Nas compras parceladas, o juro máximo
alcança 77,5% ao ano.
O
diretor executivo do Bradesco, Marcelo Noronha, disse que a diferença entre as
taxas decorre do nível de inadimplência do cartão de crédito. "Entre os
clientes que entram no rotativo, a inadimplência alcança 28%", afirmou. A
inadimplência total na modalidade, observou ele, é de 8,3%, segundo o BC.
"Precisamos
estimular esse meio de pagamento e de financiamento para que não tenha a imagem
maculada por taxas históricas de dois dígitos. Os bancos têm de fazer sua
parte, dar sua contribuição", disse Noronha.
O
elevado custo das operações no cartão de crédito está na mira do governo. Em
recente entrevista ao Estado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chamou de
"escorchantes" os juros da modalidade. Por isso, representantes do
setor privado estão discutindo com o governo uma agenda que abra caminho para
uma redução consistente dos juros. Uma das propostas em análise é o fim do
parcelamento sem juros no cartão.
Na
avaliação de pelo menos uma das grandes instituições financeiras do País, o
parcelado distorce os juros da modalidade. O argumento é de que os
inadimplentes acabam financiando os clientes que dividem a compra em várias
parcelas sem juros. Para a conta fechar, a taxa do rotativo tem de ser
altíssima.
Mas
nem todos os bancos concordam. "Não queremos tirar opções do
cliente", disse Noronha, do Bradesco. "Apenas concordamos com a ideia
de que não se pode ter exagero." Para ele, compras acima de 12 parcelas
sem juros se encaixam nessa definição.
Nos
últimos cinco anos, a base de cartões de crédito no Brasil praticamente dobrou:
em junho de 2012, eram 183,5 milhões, ante 92,4 milhões em junho de 2007.
Santander,
Caixa, Itaú e BB informaram que continuam analisando o mercado de crédito para
definir se vão reduzir os juros dos cartões.