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A
Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) promete alterar uma
campanha publicitária de incentivo à doação que simula um “recall” de córneas
de pessoas nascidas entre 1988 e 2010. Publicado nesta quinta-feira, 9, em
jornal de grande circulação nacional, o anúncio é alvo de críticas do Conselho
Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
Produzido pela agência Leo Burnett Tailor Made, a peça publicitária traz o
título “Comunicado Urgente de Recall aos proprietários de córneas” e simula a
convocação para a substituição do órgão, sob alegação de que correria o risco
de desenvolver uma doença chamada ceratocone – enfermidade grave e real que,
como explica o texto, pode até levar à cegueira.
“Constatada a necessidade de substituição da córnea, os serviços serão
realizados em, aproximadamente, 7 dias úteis”, diz a peça. Apenas na parte de
baixo, em letras pequenas, a brincadeira fica mais clara, com a mensagem: “Não
é tão simples assim substituir um órgão doente.”
Mesmo sem uma reclamação formal da entidade de oftalmologia, a ABTO admite
fazer alterações na peça. “Realmente constatamos que os elementos podem
confundir um pouco leitor. Fizemos uma analogia com a indústria automobilística
para incentivar a doação de órgãos”, explicou o presidente da APTO, José Osmar
Medina Pestana. “A intenção era mostrar que substituir um órgão não é o mesmo
que trocar peças de um carro.”
O dirigente garante, no entanto, que a entidade não recebeu nenhuma reclamação
por parte dos leitores.
Para Paulo Augusto de Arruda Melo, membro do CBO e da câmara técnica de doação
de órgãos do Ministério da Saúde, o efeito pode ser contrário ao desejado.
“Esse anúncio mais afasta que traz doadores. Traz uma imagem negativa e dá a
impressão de que o transplante pode dar errado”, afirma o oftalmologista.
Segundo ele, a brincadeira não fica óbvia para o público em geral. “Claro que
nunca se viu recall na área de saúde e muito menos é utilizado o termo
‘proprietário’ para um paciente. Mas, mesmo assim, é uma forma estranha de
anúncio, porque confunde elementos reais”, diz Arruda Melo. “Imagine o susto em
pessoas nesta faixa etária que tenham passado por transplante de córnea, por
exemplo.”
Redes sociais. No início do mês, declarar-se como doador de órgãos passou a ser
uma opção para os usuários de redes sociais. Em parceria com o Facebook, o
Ministério da Saúde criou um serviço que permite que os usuários do site de
relacionamentos manifestem o desejo de ser doador e convidem seus contatos a
fazerem o mesmo.
A
informação pode ser adicionada à linha do tempo e agregada ao perfil de cada
usuário. Ao contrário dos EUA, onde a manifestação ampliou o número de
doadores, a declaração não tem valor legal no Brasil, pois a doação no País só
é permitida com o aval dos parentes da pessoa falecida.
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