As
principais escolas de medicina do Estado de São Paulo apoiam a decisão do
Conselho Regional de Medicina (Cremesp) de tornar obrigatória a realização de
uma prova para avaliar os formandos do 6º ano do curso de Medicina, conforme o
Estado antecipou, mas fazem considerações sobre o modelo adotado e defendem uma
avaliação nacional.
Diretores
das faculdades de Medicina da Unicamp, Unesp, USP, UFSCar e Unifesp defendem a
avaliação, dizem que ela é necessária porque será mais um mecanismo para que as
instituições conheçam suas falhas e criticam a expansão de vagas nos cursos de
Medicina – o governo federal anunciou 2,5 mil novas vagas.
O
professor Mario Saad, da Unicamp, diz que uma prova de múltipla escolha ao
final do curso pode não ser a melhor forma de avaliar se um aluno realmente
aprendeu tudo o que deveria. “Nem sempre quem responde bem um teste é quem
melhor atende num hospital. O ideal seria existir um mecanismo de avaliação ao
final do 2º, do 4º e do 6 º anos, incluindo uma avaliação prática e uma prova
discursiva.”
O
professor Joaquim Edson Vieira, da comissão de graduação da USP, segue o mesmo
raciocínio. Ele apoia a existência da avaliação, mas avalia que o exame poderia
ser mais completo, como uma prova de residência médica (que inclui questões
discursivas e prova prática).
“Nossos
alunos não faziam a prova quando era voluntária por considerar que esse modelo
de exame não contribui para o exame da residência médica, que eles
obrigatoriamente fazem quando se formam. Não é questão de ser melhor ou pior.
Mas são exames diferentes”, diz.
Silvana
Artioli Schellini, da Unesp, e Bernardino Geraldo Alves Souto, da UFSCar, dizem
que os resultados serão uma ferramenta a mais para a melhoria do ensino. “A
proposta é muito inteligente porque mantém o sigilo do aluno, não tem caráter
punitivo e ainda fornece os resultados por área para a faculdade”, afirmou o
professor Souto.
O
professor Antonio Carlos Lopes, da Unifesp, classifica como oportuna a medida,
mas lamenta que a prova não tenha força para filtrar profissionais. “A decisão
do Cremesp é apenas política. Serve de estatística, mas infelizmente não tem
validade para impedir o indivíduo de exercer a profissão”, avalia.
Para
o diretor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, Valdir Golin, a
iniciativa vem a se somar com a análise feita pelo Enade, do Ministério da
Educação (MEC), que avalia os universitários no primeiro e último ano de curso.
“A regra é corajosa e absolutamente salutar. Faz um diagnóstico. Mas o ideal
seria termos algo em todo o Brasil.”
Para
a professora Cibele Retele Duch, da Uniara, de Araraquara, ainda é cedo para se
pensar num exame de ordem nacional. “Ainda precisa de maturidade. Essa evolução
tende a ocorrer, mas assim já vai forçar as instituições a repensarem seu
ensino.”
Henrique
George Naufel, da Universidade de Mogi das Cruzes, reforça a importância da
participação de todos. “Como é obrigatório mas não é excludente, pode ser que
algumas instituições boicotem e prejudiquem o objetivo real do exame.”
Como
funcionará. A prova já existe há sete anos, de forma voluntária, mas a adesão
caiu no decorrer dos anos, prejudicando a amostra e a avaliação. Ao torná-la
obrigatória, a intenção do Cremesp é ampliar a base de participação e assim ter
um retrato mais fiel do problema, além de avançar o debate da instituição (via
uma lei federal) de um exame nacional que seja requisito obrigatório para o
exercício da Medicina no País, como já acontece com os advogados.
A
norma já vale para os formandos de 2012. O exame será realizado no dia 11 de
novembro e será composto por 120 questões de múltipla escolha sobre as 9
principais áreas da medicina, que incluem pediatria, clínica médica,
obstetrícia e saúde pública. No ano passado, 46% dos alunos voluntários foram
reprovados.
A
Associação Médica Brasileira (AMB) e a Associação Paulista de Medicina (APM)
também se declararam favoráveis à aplicação da prova. Em nota, o CFM diz
concordar com a adoção de medidas que contribuam e estimulem a avaliação de
estudantes e escolas, mas diz não ter um consenso sobre a melhor abordagem para
enfrentar o problema.