Uruguai planeja legalizar venda de maconha para frear criminalidade
Projeto de lei

O
governo do Uruguai planeja legalizar a venda de maconha para evitar que os
adolescentes consumam pasta base de cocaína, que é assinalada como a causa do
aumento da delinquência juvenil no país.
Esta é uma das medidas contra a insegurança nas ruas que o Executivo presidido
pelo ex-guerrilheiro José Mujica, da esquerdista Frente Ampla (FA), apresentará
nesta quarta-feira em entrevista coletiva.
Fontes
do Ministério do Interior explicaram que a iniciativa "requer um projeto
de lei que ainda deve ser redigido".
Segundo informações da imprensa uruguaia, o governo pretende "estabelecer
registros de consumidores" para outorgar-lhes "até 40 cigarros (de
maconha) por mês" e a comercialização dessa droga incluirá "um
imposto destinado à reabilitação de pessoas viciadas".
Como
parte do pacote de medidas, o Executivo pretende também estabelecer controles
sobre os meios de comunicação para evitar que sejam transmitidas imagens
violentas nos noticiários de televisão, acrescentaram as fontes consultadas
pela Efe.
Segundo a emissora "Canal 10", a proposta governamental pretende que
a droga tenha "controles de qualidade garantida", mas "falta
definir a forma e os locais de venda da maconha para seu consumo livre e
controlado".
O plano tenta na realidade evitar que o consumidor tenha que ir a algum ponto
de venda de drogas onde lhe ofereçam também pasta base de cocaína.
Consultado pela Efe, o deputado governista Víctor Semproni, do Movimento de
Participação Popular, partido da coalizão governante ao qual Mujica também
pertence, seu grupo é "partidário de pôr a maconha no mesmo nível que o
tabaco e o álcool".
"Tem que ser industrializada, legalizada e vendida com as devidas
advertências", ressaltou Semproni, que, no entanto, disse desconhecer o
conteúdo do projeto.
O plano foi redigido pelo Gabinete de Segurança, formado por Mujica e seus
ministros de Interior, Defesa e Exteriores, com a ajuda de um grupo de
especialistas.
A medida foi questionada pela oposição através do Twitter. Para a deputada do
opositor Partido Nacional, Ana Lía Piñeirúa, a legalização "apenas
agravaria o consumo de drogas".
O líder do Partido Independiente, Pablo Mieres, assinalou que "é preciso
estudar o projeto", embora, em sua opinião, esse plano não tenha
"nada a ver" com a insegurança cidadã.
"O Estado vai vender maconha, ou seja vamos comprar do
narcotráfico?", questionou por sua vez o senador nacionalista Luis Alberto
Heber.
O líder do Partido Colorado, o senador Pedro Bordaberry, não se pronunciou por
enquanto.
Bordaberry impulsionou a coleta de 367 mil assinaturas que foram apresentadas
este ano no Parlamento para convocar um referendo com o qual pretende baixar a
idade de imputabilidade penal para os 16 anos como medida contra a delinquência
juvenil.
Mujica pronunciou nesta terça-feira uma mensagem à nação na qual instou seus
compatriotas a "refletir" sobre a violência que, em sua opinião,
"está presente em todos os segmentos" da sociedade.
O consumo de maconha para uso pessoal é legal no Uruguai e a Frente Ampla já
enviou no ano passado ao Parlamento um projeto de lei para descriminalizar seu
cultivo.
No país, de 3,3 milhões de habitantes, existem 150 mil consumidores de maconha,
dos quais 60 mil fumam diariamente.
Segundo um estudo realizado pelas Nações Unidas em 2010 quase um de cada quarto
delitos cometidos por adolescentes reclusos em centros de menores no Uruguai estiveram
vinculados ao consumo de álcool ou drogas.