Porte de drogas para consumo pode deixar de ser crime

A
Comissão de Juristas do Senado, que discute mudanças no Código Penal, aprovou
nesta segunda-feira proposta para descriminalizar o porte de drogas para
consumo próprio. Pelo texto, não haveria mais crime se um cidadão fosse
flagrado usando entorpecentes. Atualmente, a conduta ainda é considerada crime,
mas sujeita à aplicação de penas alternativas.
Os
juristas, porém, sugeriram uma ressalva para a hipótese do uso de drogas. A
pessoa poderá responder a processo caso consuma "ostensivamente substância
entorpecente em locais públicos, nas imediações de escola ou outros locais de
concentração de crianças ou adolescentes ou na presença destes". Nessa
hipótese, o usuário ficará sujeito a cumprir uma pena alternativa, se for
condenado. A pena envolveria uma advertência sobre os efeitos do consumo de
drogas, prestação de serviços à comunidade ou medida educativa de
comparecimento a programa ou curso educativo.
O
relator da comissão e procurador regional da República, Luiz Carlos Gonçalves,
disse que o colegiado deu um passo para propor o fim da dúvida sobre se o porte
de drogas para uso próprio é um ato criminoso ou não. Ele disse que a
legislação atual, a Lei 11.343/2006, não é clara o suficiente nesse aspecto. A
comissão sugeriu que a quantidade estipulada para consumo próprio será aquela
em que a pessoa se valeria para uso durante cinco dias.
Tráfico. Os juristas decidiram
que, pela proposta, o simples fato de ser realizada venda de uma substância
entorpecente seria considerado tráfico de drogas. "Se a pessoa é
surpreendida vendendo, não importa a quantidade, é tráfico", disse o
relator. A comissão vai discutir essa tarde se cria a figura de tráfico de
drogas com maior ou menor potencial lesivo, com penas diferentes para variados
tipos de substâncias.
O
conselho tem até o final do mês de junho para apresentar uma proposta de
reforma do Código Penal ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Caberá
à Casa decidir se transforma as sugestões dos juristas em um único projeto ou
as incorpora em propostas que já tramitam no Congresso.