BC reduz taxa Selic para 9% e Brasil deixa de ser o número 1 em juros reais

O
Banco Central (BC) anunciou nesta quarta-feira, 18, o sexto corte
seguido do juro básico da economia, que caiu mais uma vez 0,75 ponto. Agora, a
taxa Selic está em 9% ao ano. A redução era amplamente esperada pelos analistas
do mercado financeiro. Com a decisão, o Brasil deixa o primeiro lugar do
ranking mundial dos juros reais, que ocupava desde janeiro de 2010. A líder
agora é a Rússia.
O
comunicado divulgado pelo Copom após a decisão deixa a porta aberta para que
outras reduções aconteçam. A hipótese ganhou força porque o texto chama muita
atenção para o fato de que a inflação atualmente tem trajetória benigna no
Brasil.
"Neste
momento, permanecem limitados os riscos para a trajetória da inflação",
afirma o documento. "O Comitê nota ainda que, até agora, dada a
fragilidade da economia global, a contribuição do setor externo tem sido
desinflacionaria", completa.
"É
impressionante como o BC consegue surpreender porque deixou a porta aberta para
reduzir novamente a taxa de juros ou mesmo optar por uma parada técnica",
disse a economista-chefe da Corretora Icap Brasil, Inês Filipa. "As duas
hipóteses são possíveis. Agora, precisamos esperar a ata (que sai na próxima
quinta-feira)."
Um
cálculo elaborado pelo economista Jason Vieira, do Banco Cruzeiro do Sul,
mostra que, com a Selic a 9%, a taxa de juro real no Brasil caiu para 3,4% ao
ano, inferior à da Rússia, que hoje está em 4,2%. Juro real é o que desconta os
efeitos da inflação. Nesse cálculo, Vieira desconta da Selic a inflação
projetada para os próximos 12 meses.
O
BC já reduziu o juro básico em 3,50 pontos porcentuais desde que iniciou o
ciclo de quedas, em agosto passado. O esforço, que começou com um inesperado
corte de 0,50 ponto, teve duas reduções mais fortes para tentar imprimir ritmo
maior à economia ainda em 2012.
A
ação faz parte de uma estratégia mais ampla do governo, que tem trabalhado para
minimizar os efeitos da crise sobre o Brasil via crédito. Além disso, a
presidente Dilma Rousseff decidiu que a redução de juro e do spread bancário é
uma nova prioridade. Spread é a diferença entre a taxa de juro que o banco paga
ao captar o dinheiro e a que cobra dos clientes nos empréstimos.
A
aposta de corte de 0,75 ponto era quase uma unanimidade entre economistas.
Entre 72 analistas ouvidos pela Agência Estado, apenas dois não previam
esse cenário e esperavam redução de 0,50 ponto. Tanta certeza nasceu após a ata
da reunião de março do Copom, quando o texto atribuiu "elevada
probabilidade" de Selic em "patamares ligeiramente acima dos mínimos
históricos". A menor taxa histórica foi de 8,75% ao ano, entre julho de
2009 e março de 2010 (no auge da crise global).
O
texto do BC cita que a inflação não preocupa, mas, após os cortes nos últimos
oito meses e as várias medidas de incentivo ao crédito e consumo, o ritmo da
economia será maior a partir do segundo semestre, o que deve acelerar os
preços. Para o mercado, ainda que os índices atuais estejam comportados, os
preços subirão mais em 2013, o que pode ser preocupante para o BC.
Pelas
contas dos analistas, a inflação oficial - medida pelo IPCA - será de 5,08%
neste ano e de 5,50% no próximo. Para segurar os preços, parte do mercado prevê
até mesmo uma alta dos juros a partir de abril de 2013.
Mas
também há uma preocupação estrutural: a indexação. Influência de um histórico
inflacionário, vários setores têm forte dependência dos índices passados para
determinar os preços.
Criticada
pelo BC, tal característica faz com que seja mais difícil controlar os preços
em níveis mais baixos no País. Além disso, a indexação determina a remuneração
obrigatória da poupança, que paga a Taxa Referencial (TR) acrescida de 0,5% ao
mês.