Acordo judicial determina que prefeitura retome terreno do Itaquerão por débitos do Corinthians

O
promotor de Habitação e Urbanismo José Carlos Freitas vai convocar na próxima
semana representantes da Prefeitura de São Paulo e do Corinthians para fazer
uma cobrança formal sobre o débito de R$ 12 milhões assumidos pelo clube, como
contrapartida pelo uso do terreno municipal cedido para a construção do
Itaquerão. Sem a contrapartida paga, o terreno deve (por lei) voltar para a
Prefeitura.
É
neste terreno que está sendo construído o estádio que deve abrir a Copa 2014 e
clube corre o risco de perder o direito de uso da área cedida, por débitos
acumulados em 12 meses, no valor de R$ 3,6 milhões.
Desde
a assinatura do acordo em maio de 2011 que o clube deveria reservar R$ 300 mil
mensais para investir em obras sociais (creches, escolas, hospitais, por
exemplo). Até agora, nada foi feito.
“O
promotor tentará resolver isso com uma agenda diplomática, mas o acordo prevê
que o Corinthians perderá o direito a uso do terreno se não pagar as
contrapartidas”, explicou um jurista que leu o documento.
O
promotor Freitas foi o responsável pelo acordo judicial assinado em 2011. Pelo
documento chegou ao encerramento da ação civil pública que questionava a
legalidade da cessão do terreno do Itaquerão por parte da Prefeitura, com
base em ato municipal assinado pelo prefeito Jânio Quadros, em 1988.
O
Corinthians aceitou pagar o equivalente a R$ 300 mil mensais para quitar até
2019, junto à Prefeitura, o débito de R$ 12 milhões. Esse pagamento pode ser
feito com ações sociais, desde que as obras passem por auditoria independente,
antes de sua aceitação. Cabe ao clube pagar por essa auditoria também.
Os
R$ 12 milhões não estão incluídos no custo de construção do estádio, da ordem
de R$ 820 milhões.
A
não quitação desse débito parcelado (R$ 4 milhões até dezembro de 2014 e R$ 8
milhões de 2015 até 2019) implica em mudança da engenharia financeira
montada pela Odebrecht e que foi enviada ao Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social, em busca de empréstimo de R$ 400 milhões. Há ainda a
comercialização dos titulos assinados pelo prefeito Gilberto Kassab em favor do
FII, no valor de R$ 420 milhões.
Por
essa arquitetura, o Corinthians cedeu o direito de uso do terreno (cedido pela
Prefeitura), o direito de uso do estádio e de todas as receitas geradas com a
nova arena de futebol.
“Se
o Corinthians oferece um terreno que não é dele, por inadimplência de
contrapartida, houve crime de falsidade ideológica”, explicou um criminalista.
O
clube cedeu todos os direitos sobre o terreno e o futuro estádio (rendas e
naming rights incluídos), trocando um valor simbólico de R$ 280 milhões por
cotas secundárias do Fundo de Investimento Imobiliário, dono do estádio até sua
quitação, em 2027. Dentro do FII está a Odebrecht como cotista principal,
responsável pelo financiamento e oferecimento de todas as garantias financeiras
ao BNDES.
O
Fundo aceitou o terreno livre de qualquer pendências ou débitos.
O
acordo firmado em maio de 2011 entre Corinthians, Prefeitura de São Paulo e MPE
prevê a execução sumária da dívida de R$ 12 milhões (sem necessidade de
processo demorado) e isso significa que o terreno voltaria à Prefeitura.
Se
voltar, o terreno deixará de ser do Corinthians. Com a mudança, o Clube deixaria
de participar do Fundo de Investimento Imobiliário, que controla a arena, tendo
com cotistas principais a Odebrecht e a corretora BRL Trust. As duas empresas
tem preferência na remuneração das cotas.