Começa
nesta terça, dia 1 º, a segunda etapa da campanha de vacinação contra a febre
aftosa em 19 Estados brasileiros. Roraima, Rondônia e Amapá já começaram a
imunização de seus rebanhos em outubro e Pernambuco, Piauí, Maranhão e Pará,
com alterações no calendário de vacinação, aplicarão as doses a partir do
próximo dia 14. Segundo o Ministério da Agricultura, isso deve garantir a
proteção de mais de 160 milhões de bovinos e bubalinos.
Enquanto
a maioria dos Estados vacinará os animais de todas as idades, a Bahia, Goiás,
Minas Gerais, o Rio Grande do Sul, Tocantins e o Distrito Federal devem
imunizar apenas os animais com menos de 24 meses de vida.
Santa
Catarina não participa da campanha porque é o único Estado brasileiro
reconhecido como zona livre de aftosa sem necessidade de vacinação. O rebanho
da área livre de aftosa com vacinação, de acordo com o ministério, é formado
aproximadamente por 205 milhões de animais, e 97,4% deles foram vacinados em
2010, índice que a pasta pretende ver superado este ano.
Em
Mato Grosso, o Instituto de Defesa Sanitária Animal (Indea) prevê a confirmação
de um possível crescimento do rebanho no Estado, que hoje é de 29 milhões. O
Indea acredita que ao final da vacinação, com a contagem oficial, o rebanho
possa chegar a 30 milhões.
Nessa
etapa da campanha, os pecuaristas de Mato Grosso reclamam do aumento nos custos
da vacinação, isso porque o preço da vacina sofreu reajuste de mais de 25% em
relação ao mesmo período de 2010. Com isso, os produtores do Estado terão que
gastar aproximadamente R$ 44,3 milhões para garantir a imunização do rebanho.
–
Ano a ano a vacinação fica mais cara. Neste último ano, a arroba do boi teve um
aumento de quase 5% e o preço da vacina subiu 25%. É uma disparidade muito
grande, não existe explicação técnica para isso. O que existe é uma
estratégia comercial dos laboratórios aproveitarem essa campanha, na qual todos
devem vacinar o rebanho, para cobrarem o preço que quiserem – diz Luciano
Vacari, superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat).
No Paraná,
a expectativa é que seja vacinado 100% do rebanho de bovinos e bubalinos, cerca
de 9,5 milhões de animais. Devido ao foco de aftosa no Paraguai, foram
reforçadas barreiras sanitárias em regiões de fronteira. Em alguns desses
locais, a imunização será feita por vacinadores habilitados pela Secretaria da
Agricultura. No Rio Grande do Sul, devem ser imunizadas cerca de quatro milhões
de cabeças de bovinos e bubalinos com idade até dois anos.
A indústria
da carne também está engajada nessa campanha. A coordenadora de qualidade
do Grupo JBS, Dory Barninka, diz que a preocupação não é só com a qualidade da
carne, mas também com os embargos internacionais que podem acontecer.
–
Já ocorrem alguns embargos por resíduos veterinários, e a gente sabe que, nessa
época de vacinação, como tem a contenção de animais, o pecuarista aproveita
para aplicar outros medicamentos também. Então, por um lado, estamos cobrindo a
aftosa, mas ao mesmo tempo, temos que tomar cuidado para não descuidar em
outros sentidos – diz Dory.
Segundo
a coordenadora, nessa época do ano existe um trabalho mais intenso com os
pecuaristas, feito não só pelo Grupo JBS, mas também por outros
frigoríficos do Brasil.
–
Tentamos intensificar as visitas aos pecuaristas e reforçamos muito essa
questão do cumprimento do período de carência, seja lá qual for o medicamento,
e o uso racional dos medicamentos – observa.
O
presidente do Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), Tirso Salles
Meireles, acredita que o pecuarista brasileiro está ciente de que o rebanho
precisa de vacinação, mas, juntamente com o governo, precisa ser mais
determinado para conseguir exportar para outros países.
–
Nosso pecuarista sabe que precisa fazer a vacinação. Acredito que nós vamos ter
um índice de vacinação importante para o país, porque nós já estamos procurando
um status diferente, livre de aftosa. O Ministério da Agricultura está trabalhando
eficazmente as Secretarias da Agricultura dos Estados, assim como o CNPC, que
está dividido em cinco partes no Brasil, onde faz um trabalho junto com as
federações de Agricultura, e as federações fazem um trabalho com as Secretarias
– diz.
Segundo
Meireles, 'estão todos preocupados para que possamos diminuir qualquer tipo de
ação da febre aftosa, e diminuir os resíduos veterinários nos animais, para que
possamos evitar os embargos'.
–
Precisamos de determinação. Como o Uruguai consegue exportar carne para os
Estados Unidos se tem o mesmo status do Brasil e do Rio Grande do Sul, e o
RS não consegue vender para os Estados Unidos? Precisamos ser mais enfáticos,
tivemos um aumento da vacina do ano passado para cá, o pecuarista está bancando
esse aumento, e nós não podemos deixar de não cumprir com as nossas
necessidades, mas o governo tem que cumprir com as dele – declara.
O
Ministério da Agricultura informa que a meta do governo é tornar todo o
território nacional livre de aftosa com vacinação até 2013. A última data
estipulada, ainda no governo do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, era
o fim de 2010, mas a fragilidade do controle de vacinação nos países vizinhos
e, recentemente, a detecção de um foco da doença no interior do Paraguai, em setembro,
levaram o cronograma a ser redefinido.