Com
102 inscritos e apenas um aluno na segunda fase do exame da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil), a AEMS – Faculdades Integradas de Três Lagoas, em Mato
Grosso do Sul - é, entre as instituições que não aprovaram nenhum bacharel no último
exame da OAB, a que tinha mais participantes e, portanto, obteve um dos piores
desempenhos do Brasil. Os dados preliminares do resultado do exame foram
obtidos com pelo portal IG.
Em
março do ano passado, o Ministério da Educação já havia determinado uma redução
das vagas no curso de Direito da AEMS. Das 120 que eram oferecidas sobram 70,
mas a faculdade recorreu da decisão.
O
corte levou em consideração o desempenho insuficiente da instituição que, em
2007, entrou na lista das 89 monitoradas pelo MEC. Na época, o curso da
faculdade foi classificado como 2, em uma escala que vai de 1 a 5, segundo a
avaliação do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes).
Os
alunos
Na
faculdade, os alunos mostram preocupação e criticam a instituição. Eles
reclamam de docentes despreparados, da falta de prática jurídica e da estrutura
física. “Acho que 40% dos meus professores são ruins”, afirma a aluna Bruna
Toledo, de 21 anos, que está no 4º ano de Direito na faculdade.
“As
salas de aula são péssimas, não têm ar condicionado e os ventiladores são muito
barulhentos. Além disso, quase não temos prática jurídica e os professores não
incentivam os alunos a estudarem outras doutrinas”, diz outra acadêmica do 4º
ano, Karolin Freitas, de 21.
Os
estudantes ainda reclamam que, apesar da deficiências do curso, só existem duas
opções para quem quer estudar Direito em Três Lagoas: a AEMS e a UFMS
(Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). A cidade também é alternativa
para quem mora em cidades vizinhas que não têm universidade. Três Lagoas fica
perto da divisa com São Paulo e atrai muitos estudantes do vizinho.
Portanto,
quem não teve uma boa formação escolar ou um bom cursinho só resta a AEMS: no
último ano, havia 12 candidatos por vaga para o curso de Direito da UFMS em
Três Lagoas - é a maior concorrência do interior do Estado.
Bruna
Toledo é uma das pessoas que saem todos os dias de Andradina (SP) para estudar
em Mato Grosso do Sul. “Diariamente, de Andradina, são três ônibus à noite só
de universitários que vão estudar na AEMS", conta Toledo.
Thais
Pinho, de 30 anos, concluiu a graduação em 2005 pela faculdade de Três Lagoas e
demorou dois anos até conseguir ser aprovada no Exame de Ordem. Apesar de ter
que investir em um cursinho específico, ela não acredita que o seu despreparo
tenha sido culpa da instituição. “Acho que nenhuma faculdade prepara para a
OAB. É aprovado mais rápido quem tem mais tempo para estudar, o que eu não
tinha”, diz a advogada.
Desde
o início deste mês, a faculdade passou a oferecer um curso preparatório para o
exame da OAB. Professora da instituição e coordenadora da atividade, Patrícia
de Oliveira nega que as aulas sejam uma resposta à baixa aprovação dos alunos
da instituição. “É um curso de extensão como outro qualquer”, afirma a docente,
que não quis comentar os resultados da avaliação.
Procurados
pela reportagem, a faculdade e a coordenação do curso de Direito não
responderam. Quando foi anunciado que o MEC cortaria vagas na universidade, o
coordenador do Direito, Paulo César Ferreira, culpou os alunos em entrevista ao
jornal Hoje MS: “Temos ótimos professores e uma biblioteca excelente. Não
há o que torne nosso ensino inferior a nenhum outro. Agora, muito o que falta é
a dedicação por parte dos alunos, porque estrutura nós temos”.
Exame
será julgado pelo Supremo
A constitucionalidade do Exame de Ordem, que provoca polêmica
principalmente pelos altos índices de reprovação, será julgada pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) ainda este ano. Com o objetivo de aprofundar e
qualificar a discussão do tema, o iG publica durante toda essa semana
reportagens sobre a avaliação.