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Se
existisse um tratamento ideal para enxaqueca, ele começaria com procurar um
médico se os episódios de dor fossem mais frequentes do que uma vez
por mês. Após eliminar causas graves – como tumores e acidente vascular
cerebral –, o médico seguiria com a identificação dos gatilhos da dor e com
tratamentos alternativos ao uso de remédios. Na prática, porém, o problema é
tratado de forma imediatista e irresponsável: quando a dor chega, o remédio, em
geral sem qualquer indicação médica, é sempre a primeira opção.
“O
uso excessivo e sem indicação médica de remédios para dor de cabeça já mostrou
que esse é um comportamento perigoso, que pode agravar a intensidade e a
frequência das crises” garante o neurologista Alan Rapoport, especialista em
enxaqueca do Centro Médico Ronald Reagan da Universidade da Califórnia, de Los
Angeles (EUA) – ele está no País participando do Congresso Brasileiro de
Cefaleias, que ocorre até sábado, em São Paulo.
Entre
as centenas de tipos de dor de cabeça descritos pela medicina, a enxaqueca é o
mais estudado. Não é para menos. As crises, que podem ser até diárias, causam
dores incapacitantes e uma série de sintomas desagradáveis como tonturas,
náuseas, vômitos e sensibilidade à luz. Quem tem enxaqueca em geral não
consegue funcionar durante as crises.
“As
pessoas sentem tanto incômodo que se isolam em um quarto escuro, se enchem de
remédios e esperam a dor passar para seguir com suas vidas” conta Rapoport.
Uma
pesquisa feita pelo neurologista Luiz Paulo de Queiroz, da Universidade Federal
de Santa Catarina e apresentada no congresso, entrevistou 3.848 pessoas nas
cinco regiões do País e encontrou uma prevalência de enxaqueca nas regiões
Centro-Oeste, Norte e Nordeste, de 9,5%, 8,5% e 13,6%, respectivamente. Na
população do Sudeste e do Sul, a prevalência foi ainda mais alta: 20,5% e
16,4%.
Melhor tratamento
Hoje
se sabe que a enxaqueca é causada por uma série de pequenas alterações na
química e nos circuitos dos neurônios, especialmente na região do cérebro ligada
à visão. Por isso, explica Rapoport, antes da dor, um terço dos portadores tem
uma espécie de distúrbio visual conhecido com aura – sim, é literalmente o
mesmo que enxergar uma aura de luz no campo de visão.
Com
tantos sintomas ruins, fica difícil resistir ao apelo de medicamentos que
resolvem as crises, às vezes de forma bem rápida. Mas é possível controlar a
enxaqueca com um arsenal de tratamentos disponíveis que inclui técnicas de
relaxamento e massagem e gerenciamento do estresse e mudanças comportamentais –
identificar os gatilhos da dor e aprender a gerenciá-los ou evitá-los pode
reduzir a intensidade e principalmente a frequência das crises.
Quando
tudo isso não é suficiente, um amplo leque de medicamentos pode entrar em ação
para ajudar. Além dos analgésicos de venda livre como paracetamol, ibuprofeno
ou ácido acetilsalicílico, são usados medicamentos como os triptanos, as
ergotaminas e o isometepteno, entre outros. Uma novidade recente é o uso da
toxina botulínica – o nome Botox é, na verdade, uma marca comercial que nomeia
essa substância. Nos últimos anos, dois grandes estudos idênticos, com
portadores de enxaqueca crônica, ou seja, mais de 15 crises por mês, mostraram
que ela melhorava os episódios de dor em relação a quem recebia o placebo
(tratamento sem efeito).
Pesquisas
também vêm mostrando que algumas vitaminas e minerais, quando tomados
diariamente, ajudam a reduzir a intensidade e a frequência das crises. O médico
cita como exemplos a vitamina B2 (riboflavina), a coenzima Q10, o magnésio e a
melatonina, uma substância que está ligada aos ciclos de sono e vigília do
corpo.
“São
substâncias que existem naturalmente no corpo. Repor ou até aumentar os níveis
delas pode ajudar algumas pessoas. Infelizmente, não existe um único tratamento
que funcione para todo mundo, porque existem centenas de tipos de dor de
cabeça. Alguns respondem muito bem a um medicamento que para outros não faz
efeito algum.” diz Rapoport.
Entre
remédios já em uso e novas drogas ainda em fase de pesquisas, o neurologista
garante que é possível combater a dor com diferentes mecanismos de ação e novas
vias de administração.
“Há
drogas injetáveis, sprays nasais e até inaladores, que atuam mais rapidamente
do que os medicamentos orais. Hoje estão em estudo adesivos (patches) para
colocar na pele e até uma substância em pó, administrada por via nasal”
adianta.
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