O
visto para recém-formados e estudantes estrangeiros que querem estagiar ou
trabalhar mudou duas vezes em dez meses -e há quem, com as mudanças, sinta
dificuldade de entrar no Brasil.
Até
setembro do ano passado, tanto para fazer estágio como para atuar
temporariamente, estrangeiros tinham de obter visto de trabalho.
"[Nos
dois casos,] era preciso autorização do MTE [Ministério do Trabalho e
Emprego]", diz Paulo Sérgio de Almeida, presidente do Conselho Nacional de
Imigração.
Agora,
alunos e recém-formados que vêm fazer intercâmbio profissional têm tratamentos
diferenciados.
Os
primeiros entram com visto de estudante. Devem estar matriculados em uma
instituição de ensino brasileira, o que não era exigido antes.
Já
os intercambistas profissionais precisam de visto de trabalho. Além disso,
desde março deste ano, não são mais eles que dão entrada na papelada em
consulados no exterior, mas a empresa à qual estarão vinculados durante a
estada no Brasil -o que pode atrasar o processo.
O
Conselho Nacional de Imigração também passou a exigir que os empregadores
arquem com encargos sociais, como 13º salário e férias. Os profissionais
precisarão de carteira de trabalho.
DIFICULDADES
Para
Alberto Cavalheiro, superintendente do Nube (Núcleo Brasileiro de Estágio), as
mudanças aumentam a burocracia e o tempo de concessão do visto.
"Dificultam a entrada [dos alunos]."
O
tempo para obter o visto de estudante, segundo o Ministério das Relações
Exteriores, varia conforme o consulado do país em que é solicitado. No caso de
intercambistas, a expectativa atual de tempo de concessão do visto é de 15
dias, segundo o Conselho Nacional de Imigração.
O
estudante português Raoul François Martin, 25, levou três meses para obter o
visto para estagiar no Ifesp (Instituto de Estudos Franceses e Europeus), em
São Paulo.
Ele
diz não ter se importado com a demora. Pós-graduando em marketing pela Inseec
Paris, escola de negócios francesa, escolheu o Brasil pelas oportunidades:
"É o maior país da América Latina e o que mais cresce".
É
também o motivo apontado pela norte-americana Emani Sameerah Harris, 21.
Assim
que deu início ao processo para estagiar no Brasil, o visto da estudante de
Pittsburgh saiu em duas semanas. "Só tive problemas para agendar
voos", conta.
Na
opinião de Carla Alcides, diretora do MBA Executivo da Universidade de
Pittsburgh na América Latina, as resoluções, embora aumentem a burocracia, não
dificultam a entrada dos jovens. "O que mais pesa é o idioma."
INTERNACIONALIZAÇÃO
Ao
trazer estudantes estrangeiros, as empresas buscam "resolver o problema de
falta de mão de obra qualificada", cita Alexandrine Brami, diretora do
Ifesp.
Segundo
especialistas ouvidos pela Folha, as novas regras podem ajudar no processo de
internacionalização das instituições de ensino.
"Quando
universidades abrem vagas para estrangeiros, espera-se a mesma abertura para
brasileiros", afirma Adnei de Andrade, vice-reitor-executivo de relações
internacionais da USP (Universidade de São Paulo).